Um vídeo, uma foto e um segundo. Tudo o que é necessário para se destruir uma vida ou de familiares de vítimas. Tal a velocidade de compartilhamento entre as pessoas nas mídias sociais. Comentários de pessoas que acreditam, sim, que podem julgar ou serem julgadores dos fatos, como se os presenciasse do conforto de casa. O caso do acidente nesse que vitimou um casal em Içara, é, apenas, uma mostra do quão a sensibilidade está perdendo o valor. Como se tudo fosse um filme. O desejo de compartilhar, de ganhar curtidas e de, através disso, sentir uma sensação de importância dentro da sociedade é mais forte. E, assim, perdese o valor da vida humana. Familiares recebendo tais fotos e vídeos, como se quisessem lembrar de seu ente querido daquela forma. Muitas vezes na ânsia de fotografar/filmar e compartilhar esquece-se da realidade, como se tudo aquilo existisse, apenas, no virtual. A noção de humanidade está morrendo e o valor de um ser não se mede mais pelas obras construídas, mas sim pelas curtidas e “likes”. Por isso temos que tomar cuidado a todo o momento sobre o que compartilhamos, filmamos ou fotografamos. Até as mais inocentes imagens podem ser utilizadas em notícias falsas e causarem prejuízos inimagináveis. Principalmente, pelo julgamento dos comentários feitos na sala de casa. Como se do outro lado da tela não morasse uma vida. Enquanto essa ânsia por ser o portador das notícias e de estar “antenado” toma conta, vidas se perdem. Não podemos esquecer que o mundo está fora dos nossos smartphones. Ele está ao nosso redor, em nossas atitudes e no jeito em que tratamos os outros. Muitas vezes parecesse que as mídias sociais potencializaram o que há de bom, com debates e críticas construtivas, mas, também, o que existe de ruim na sociedade. Com as fofocas e o julgamento, como se todos fossemos superiores. Não podemos deixar a sensibilidade e o bom senso morrerem nessa ansiedade de mostrar aos outros os fatos. Tenhamos consciência do que passamos à frente e do que postamos em grupos e conversas privadas. Porque basta um segundo para acabarmos com a vida de alguém ou com a nossa. Basta uma foto ou vídeo para dilacerarmos uma família. Já que não temos controle sobre a repercussão dessas atitudes no mundo virtual.
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
Crônicas de um intercambista: O roubo!
Era tarde da noite, tínhamos chego em Londres em um dos aeroportos longe da cidade, já que havíamos viajado com uma empresa de baixo custo. Segundo nosso planejamento essa era a noite de dormir no aeroporto de Gatwick, se não me falha a memória. Observamos o lugar e como iríamos para a cidade, de trem, táxi ou ônibus. A fome começou a surgir e buscamos umas lojas que ficavam abertas 24h no aeroporto. Uma dessas não possuía caixa, apenas umas mulheres que ficavam repondo as prateleiras. Era toda aberta e você pegava o produto passava no caixa eletrônico colocava dinheiro ou cartão e recebia o troco. Começamos a andar pelas prateleiras para escolher o que iríamos comer, foi quando em uma deles vi um jovem de uns 25 anos, com cabelos castanhos. Ele agia estranhamente. Cheguei na prateleira em que ele estava foi quando vi ele abaixar uma bolsa preta abrir o reco, pegar os chocolates todos e jogar dentro. Chamei meus amigos:
- Olha lá, ele está roubando, o que a gente faz?
Enquanto isso, as meninas da loja cuidavam do estoque de outra prateleira. Sem saber muito o que fazer e com medo. Observamos a cena que durou segundos até ele perceber que estávamos vendo-o. E assim, como uma corrida de 100m, ele se desfez, antes de qualquer reação. Era páscoa, acreditamos que por isso ele havia levado tantos chocolates.
- Viu!? Falam que é só no Brasil.
- Pegou chocolate para toda a páscoa, senhor.
- Só, toda a prateleira!
Comentamos, ainda sem entender a cena que havíamos presenciado. Pegamos os sanduíches e fomos comer em um canto do aeroporto. Arrumamos umas cadeiras e dormimos. Depois de um tempo resolvemos buscar outro espaço que tinha umas espreguiçadeiras. Foi quando ouvimos um latido. Dois policiais fortemente armados, com um cachorro revistaram todos os cantos em busca de bombas, acreditamos. Uma cena que não se vê todos os dias. Vimos, após um tempo, o pequeno ladrão ir em direção aos trens e partir. Dormimos, juntamente, com diversas pessoas. Às 6h da manhã acordamos e assim começava nossa jornada em Londres.
segunda-feira, 11 de setembro de 2017
O futebol e a sorte
“Venceu, mas não convenceu”, um frase comum no futebol. Isso ocorre porque esse é, simplesmente, um dos esportes coletivos mais imprevisíveis. Como a vitória do Criciúma ante a Luverdense. A realidade é que a sorte tem mais influência no resultado de uma partido do que nós torcedores queremos acreditar. Obviamente o treinamento e o estilo de jogo contam para se ter superioridade, mas, ao mesmo tempo, isso não é garantia de bola na rede. O evento mais raro, dentro do futebol, é o gol. Por isso no começo do campeonato embora o tricolor tivesse mais posse de bola ou, até mesmo, finalizado mais não conseguia vencer. Os analistas esportivos Chris Anderson e David Sally no livro “Os Números do Jogo” mostram que a sorte tem um papel mais importante do que possamos imaginar ou aceitar. Sendo um fator determinante em pelo menos mais de 20% das partidas. Quantos jogos vimos uma superioridade durante a partida ser derrubada por uma chance do time adversário? Por isso eles analisaram quantas vezes os times “favoritos” vencem partidas em diversos esportes. Na temporada de 2010 a 2011 eles analisaram a Liga Inglesa de Futebol, a NBA (Basquete), NHL (Hockey), NFL (Futebol Americano), entre outros. Na NBA, por exemplo, em 80% da partidas o time com superioridade técnica venceu, na NHL e NFL foram mais de 60%. Já no futebol esse número foi um pouco maior que 50%. Ou seja, quando um time entra em campo, apesar do favoritismo ou de ter o melhor elenco ele tem as mesmas chances de ganhar do que quando jogamos cara ou coroa. A Luverdense foi superior ao Criciúma, porém, não marcou mais gols. Tudo se resume a isso. Por isso no começo do campeonato, apesar de ser superior, a equipe não vencia. Apesar de existir uma coerência nos números e uma lógica dentro desse esporte, a sorte tem um espaço garantido dando uma pitada e trazendo o imprevisível. Como a eliminação do Internacional para um desconhecido Mazembe. Por isso, nem sempre jogar bonito é vencer. Ou ter os melhores garante o título. Como no caso do Leicester City, a pequena equipe que foi campeã do maior campeonato do mundo a Premier League. Como diz uma frase no museu do Chelsea: “Não existe essa coisa de futebol feio ou bonito. O que existe é futebol vencedor”. Essa imprevisibilidade da bola e a influência que a sorte tem no jogo, talvez sejam os fatores que passam despercebidos por nós torcedores, mas, com certeza, são o tempero que move a paixão por um dos esportes mais populares no mundo. O futebol e a sorte, uma mistura viciante.
segunda-feira, 14 de agosto de 2017
O Ser esportista
São 90 minutos que podem decretar o fim de uma carreira. Toda uma vida resumida em dois tempos de 45 minutos. Basta uma atuação ruim e na outra partida o banco aguarda. Toda uma vida de preparos e batalhas para se profissionalizar. Para estar entre aqueles menos de 10% que viram realmente atletas, após a base. Uma vida sendo jogada em todas as partidas. Desafiando lesões, dias ruins e a crítica. Poucos sabem como é o apagar das luzes do estádio. Ter um família que conta com seus pés para, enfim, construir algo ou até sair da fome. Seja na piscina, no tatame, na quadra ou em um campo, poucos entendem o ser atleta. Aquela adrenalina de desafiar o próprio corpo. Aquela obrigação, que recai sob a maioria, de ter sucesso. Enquanto você lê este texto, tente imaginar quantas crianças, adolescentes e jovens estão treinando e dando seu sangue em busca desse sonho. E quando, finalmente, alcançam o tão sonhado troféu vem com ele o julgamento dos incapazes ou ignorantes. Que realmente acreditam que é só um jogo. Que vêem apenas os louros do ser atleta. O ser esportista é algo a se estudar. Enquanto vivemos uma vida comum eles estão lá treinando horas e horas, sem parar. Porque na realidade não existe talento que substitui a prática. Já que quando a luta começa não tem mais tempo. Aqueles serão os segundos ou minutos que definirão o futuro. Enquanto do sofá julgamos os resultados e até os chamamos de mercenários, principalmente, jogadores de futebol, esquecemos de tudo que se passa até chegar no palco principal. Das batalhas, da entrega e das horas sem ver os familiares que esses esportistas passaram. Tudo parece fácil. Como a judoca brasileira que perdeu nas olímpiadas de Londres e recebeu diversas ofensas, tendo sua redenção no Rio com o ouro. Esquecemos que do outro lado da tela existem seres humanos. Do alto de nosso sofá cremos que é fácil. Mas a verdade é que os atletas treinam tanto que fazem parecer simples. Enquanto isso o esporte segue dando uma segunda chance para a vida de crianças e adolescentes que, provavelmente, acabariam na cadeia ou mortos. E isso no mundo todo. Como o pugilista Manny Pacquiao, um dos maiores da atualidade. Que saiu de uma casa feita com folhas de bananeira, em meio a guerra civil nas Filipinas, para brilhar nos palcos mais chiques e conceituados do boxe. Da fome à fartura. Mas como humanos que somos analisamos apenas a casca. Esquecemos de todo o conteúdo. Vemos apenas os bônus e esquecemos o ônus. E assim como o esporte, na vida, não existe vitória sem entrega, sem trabalho e sem derrotas.
sexta-feira, 4 de agosto de 2017
Crônicas de um intercambista: Uma lição de vida
Continuávamos a visita a Saint Michan’s Church, após ter encostado em uma múmia, havíamos saido para a rua. O guia caminhou uns 50 metros e abriu a segunda porta que dava para mais um corredor nefasto, daqueles que você vê em filmes da idade média, com diversas salas funerárias, digamos. Logo no início dois caixões dispostos, como em uma exibição e uma carta com uma letra claramente da idade média. Nos aproximamos um pouco para tentar ler o que estava escrito, mas era um pouco complicado entender aquela letra bem desenhada. Parecia que tinha saído dos filmes. O guia então nos explicou que aquele eram os corpos de dois irmãos irlandeses que tentaram libertar o país das mãos dos ingleses. O plano era simples, enquanto um agrupava guerreiros irlandeses o outro iria para a França em busca de reforços para a revolta. Porém devido a uma falha de comunicação, acredito que o pombo tenha voado para outros ares, os reforços franceses chegaram com uma semana de atraso e os ingleses já haviam controlado a rebelião e prendido o irmão que ficara. Resumindo, porque essa não é a grande lição, o rei da época condenou os dois a morte e escreveu aquela carta dando detalhes de como deveria ser a execução. Primeiro deveriam enforcá-los, mas até eles desmaiarem e posteriormente abrir as entranhas de ambos e deixar exposta até serem mortos. O que na execução não foi o que aconteceu. Uma daquelas aventuras que cedo ou tarde encontraremos nas telonas dos cinemas. Andamos mais uns dez metros e uma porta de madeira chamou a atenção. Apenas com uma pequena abertura. “Uma cela de prisão”, pensei. Mas ao olhar pela fresta diversos caixões se empilhavam. De todas as cores, com ouro e prata. Um mais chique que o outro. Até que observei no canto, um caixão de madeira simples. Sem nenhuma ornamento, cor ou verniz. Apenas algumas tábuas, feitas na pressa. “ Esse local, maior, que vocês estão vendo. É onde eram colocados a nobreza de Dublin. Lordes, duques e afins”, explicou o guia. Agora havia entendido os ornamentos e a pompa, mas e aquele caixão? “Se vocês verem tem um ali ao lado, que é diferente dos outros. Simples. Esse foi um lorde que todos odiavam, inclusive a sua família. Ele era muito ruim com todos. Por isso, quando ele morreu ninguém o homenageou e o colocaram nesse caixão como uma forma de vingança e humilhação”, falou o guia. Na horas, começamos a nos olhar como se pensássemos:“Será que terminaremos assim? Ele devia ser ruim mesmo”. Acho que todos começaram a imaginar seus funerais. Que compareceria? Será que somos ruins assim? Quantas pessoas conhecemos que colocam o orgulho acima de tudo e esmagam o próximo? Triste fim para o Lorde. Porém quanto sofrimento ele não deve ter causado? “Ninguém pode ser tão ruim, que até a família o odeie”, pensei. Porém, diversos casos existem por aí. Pessoas tão vazias e cheias de orgulho que não enxergam o real impacto de suas ações e palavras nas pessoas a sua volta. Será que estamos no caminho certo? E nesses segundos toda a minha vida passou por meu olhos. Amigos, família… Tudo. Assim, aprende a grande lição: “Seja bom e ame a todos, principalmente a família, porque no fim serão eles que decidirão qual caixão utilizar”.
segunda-feira, 24 de julho de 2017
Reforma Trabalhista
É hora de começar o turno, Márcio coloca o seu jaleco e se preparar para ir ao torno começar o trabalho. No caminho, seu chefe o chama. “Estou com problemas! Não posso perder esse emprego’”, pensa. Ao chegar no escritório, o chefe olhando pela janela começa o discurso:
- Bom você sabe que estamos passando por problemas financeiros. Os pedidos diminuíram e precisamos reduzir custos. A crise está forte ainda.
- Sim, mas está voltando ao normal.
- Não, impressão sua. Bom, vou ser direto, o que acontece é que não temos mais condições de te manter aqui…
- O senhor está me demitindo? Depois de 20 anos! Tudo o que fiz por essa empresa…
- Calma! Não é bem um demissão. Podemos entrar num acordo. Te darei uma opção que ficará bom para nós e para você: o trabalho intermitente. Nós o demitimos, pagamos sua indenização e você nos devolve metade. Então continuará trabalhando.
- Mas isso não pode! Se vocês está me demitindo, porque eu te devolveria?
- Na verdade, estou lhe dando uma opção de continuar empregado. E claro que posso, você não viu a reforma? Estou tentando te ajudar aqui.
- Mas meu salário vai diminuir? E a insalubridade?
- Ah! O teu salário vai depender das horas que tu trabalhar. Hoje você recebe R$20 a hora, após a mudança será R$10. Insalubridade? Não visse o acordo com o sindicato? Não tem mais.
- Mas e o piso da categoria?
- Não serve para nada. No trabalho intermitente só as horas que você fará que importarão.
- Bom pelo menos a rescisão vai me dar um bom dinheiro.
- É... assim, mudou o cálculo então você receberá menos.
- Mas eu comecei a trabalhar antes de a lei ser aprovada.
- Bom, entre na justiça se não concorda. Então o que será? Vais continuar conosco? Sabe neh!? Não está fácil arranjar emprego.
- E o seguro?
- Não tens direito.
Márcio ficou fitando seu chefe, sem saber o que responder. Um turbilhão pensamentos. “Mas se eu for só demitido e não encontrar emprego? Não posso ficar sem trabalhar, minha família depende disso..”
- Tudo bem!
- Isso! Você tomou a decisão certa. Amanhã depositaremos o valor e você nos trás o combinado e já assina os papéis. Fechado?
- Fechado.
Apertaram as mãos e Márcio voltou ao trabalho. Ainda sem acreditar. “Todos falam que a economia está reagindo, estou trabalhando o mesmo que antes da crise”, pensava. Até conversar com seus colegas e descobrir que apenas os encarregados não estavam sendo demitidos e contratados como terceirizados ou para receber por hora trabalhada. “O que faremos?Nada? Pelo jeito...”, disse a si.
- Bom você sabe que estamos passando por problemas financeiros. Os pedidos diminuíram e precisamos reduzir custos. A crise está forte ainda.
- Sim, mas está voltando ao normal.
- Não, impressão sua. Bom, vou ser direto, o que acontece é que não temos mais condições de te manter aqui…
- O senhor está me demitindo? Depois de 20 anos! Tudo o que fiz por essa empresa…
- Calma! Não é bem um demissão. Podemos entrar num acordo. Te darei uma opção que ficará bom para nós e para você: o trabalho intermitente. Nós o demitimos, pagamos sua indenização e você nos devolve metade. Então continuará trabalhando.
- Mas isso não pode! Se vocês está me demitindo, porque eu te devolveria?
- Na verdade, estou lhe dando uma opção de continuar empregado. E claro que posso, você não viu a reforma? Estou tentando te ajudar aqui.
- Mas meu salário vai diminuir? E a insalubridade?
- Ah! O teu salário vai depender das horas que tu trabalhar. Hoje você recebe R$20 a hora, após a mudança será R$10. Insalubridade? Não visse o acordo com o sindicato? Não tem mais.
- Mas e o piso da categoria?
- Não serve para nada. No trabalho intermitente só as horas que você fará que importarão.
- Bom pelo menos a rescisão vai me dar um bom dinheiro.
- É... assim, mudou o cálculo então você receberá menos.
- Mas eu comecei a trabalhar antes de a lei ser aprovada.
- Bom, entre na justiça se não concorda. Então o que será? Vais continuar conosco? Sabe neh!? Não está fácil arranjar emprego.
- E o seguro?
- Não tens direito.
Márcio ficou fitando seu chefe, sem saber o que responder. Um turbilhão pensamentos. “Mas se eu for só demitido e não encontrar emprego? Não posso ficar sem trabalhar, minha família depende disso..”
- Tudo bem!
- Isso! Você tomou a decisão certa. Amanhã depositaremos o valor e você nos trás o combinado e já assina os papéis. Fechado?
- Fechado.
Apertaram as mãos e Márcio voltou ao trabalho. Ainda sem acreditar. “Todos falam que a economia está reagindo, estou trabalhando o mesmo que antes da crise”, pensava. Até conversar com seus colegas e descobrir que apenas os encarregados não estavam sendo demitidos e contratados como terceirizados ou para receber por hora trabalhada. “O que faremos?Nada? Pelo jeito...”, disse a si.
quinta-feira, 29 de junho de 2017
Crônicas de um intercambista: O dia que toquei uma múmia
Era um dia de aula normal chegamos na sala e o professor nos avisou que teríamos um dia diferente. Íamos visitar uma igreja a Saint Michan’s Church. Era próxima da escola e fomos caminhando e conversando. Chegando lá pagamos a entrada e começamos uma visita interessante. Começando pelo orgão grande e muito bonito. Além de ter uma história rica sendo o instrumento onde George Frideric Handel tocou pela primeira vez a música Messiah. Mas o mais interessante estava abaixo da igreja. Continuamos o tour com o guia contando as diversas histórias da igreja que sobreviveu aos vikings. Sendo uma igreja cristã e depois protestante. Chegando a parte de fora ele abriu uma porta na lateral, que parecia com aquelas de filmes de tornados onde ficam os esconderijos. “ Na época cristã acreditava-se que ser enterrado embaixo de um igreja era sagrado. Primeiro essa honra era dada àqueles que mereciam, mas depois a igreja começou a vender os espaços”, explicou o guia. Entramos no primeiro corredor e parecia mais uma cela de prisão do que túmulos. Pequenos espaços com grade e caixões. Até que no final uma parte estava sem grade e alguns corpos estavam a mostra. Devido a ventilação o local dos corpos tem o perfeito estado para a mumificação. Logo estavam bem conservados.Estavam a mostra devido a ação do tempo. Notamos que em um dos caixões o corpo estava sem os pés. “ Quando não cabia no caixão eles cortavam partes do corpo para caber”, disse o guia. Lá no fundo um corpo me chamou atenção. Era de uma estatura média e segurava uma espada. “ Aquele acredita-se ser de um cruzado e dizem que se você encostar no dedo direito dele traz sorte. Alguém quer tentar? Podem ir lá”, disse o guia. Como bom turista, fui sem exitar. E encostei nos dedos daquele cadáver da idade média. Uma foto e acredito que passou um pouco de sorte. Pode até ser. Porém toda a história por trás disso era muito fantástica. Teoricamente todos os espaços continuam ativos, já que foram vendidos por diversas famílias. Saímos então do primeiro corredor. O guia abriu a segunda porta e uma lição de vida seria ensinada nesse dia. Porém, deixemos este mistério para a próxima crônica.
segunda-feira, 19 de junho de 2017
Estado Policial
Recentemente o ministro do STF Gilmar Mendes proferiu um discurso que foi transmitido pelo Youtube. Foram 40 minutos de fala, sendo que uma expressão me chamou a atenção: “Estado Policial”. Disse ele: “É preciso colocar limites. Não podemos despencar para um modelo de Estado Policial…”. O que seria esse modelo? Será que estamos indo nessa direção? Não precisamos ir muito longe. Saíndo da política, na última semana, quando um jovem de 23 anos teve sua vida interrompida por bandidos, em Navegantes. Quantos jovens como esse já perderam a vida só nesse início de ano? Indo para o futebol apenas em um final de semana praticamente duas brigas de torcidas foram registrada. Um sendo entre apoiadores do mesmo time. E outro sendo justificada pelo fato de que a torcida organizada adversária avançou onde estava localizada a loja do organizada do outro time e que esta estava lá para proteger o local. Como se fosse o velho oeste. Como se fosse uma guerra, quando se deixa um batalhão cuidando da base. E o que se faz? Praticamente nada, ou zero. A impunidade faz parte do dia a dia da nossa sociedade. Porém basta ricos, políticos e os próprios membros do judiciário serem presos e investigados que aparecem termos como este. Gostaria de saber em que mundo vivem estes poderosos de Brasília? O ministro esquece que nunca iremos cair em um “Estado Policial”, porque o país já está dominado. Facções criminosas que assassinam candidatos a vereador no Rio de Janeiro para que os seus vençam. Candidatos a governador financiados pelo tráfico. O Comando Vermelho e o PCC já movimenta mais dinheiro que muitos estados brasileiros. E continuam tentando dominar todo o país, encontrando resistência e promovendo chacinas como vimos no Amazonas. A verdade é que estamos, sim, despencando para um modelo de “Estado Banditatorial”. Quem me dera poder viver nesse modelo proposto por Gilmar Mendes. Afinal se não houvessem tantos bandidos em todas as esferas, não estaríamos vivenciando esses episódios. Não existiriam operações da Polícia Federal nem investigações. Até porque, como teríamos um “Estado Policial”, se nem efetivo temos? Se faltam cadeias para abrigar tantos presos? - motivo pelo qual vários delinquentes continuam soltos na rua e nos estádios de futebol. Se não fossem as leis, frouxas e velhas que não se modernizam diante de tantas turbulências no câmara? Pense nisso. É hora de construirmos um futuro melhor. É hora de reformar e renovar a administração pública, porque no fim do dia tudo se volta a precarização dos órgãos públicos em todas as áreas. O Brasil está em uma das mais perigosas guerras: a silenciosa.
terça-feira, 6 de junho de 2017
Crônicas de um intercambista: “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”
“Nós que aqui estamos, por vós esperamos”, o documentário que vai de lápide em lápide contando histórias da humanidade e dos personagens inventados, era isso o que se passava em minha mente. Estávamos a alguns metros abaixo do chão, em Paris, última cidade de nosso mochilão. O ambiente um pouco escuro dava a ambientação perfeita para as Catacumbas da cidade. A cada novo passo a frase título fazia mais sentido. Pilhas de ossos e diversas “galerias” sendo que, geralmente, os crânios formavam uma figura. Paro, uma delas me chama a atenção. “Um coração, que loucura”, penso. Placas de diversos cemitérios e anos. De 1800, 1864.. e por aí vai. Sem saber onde colocar os ossos dos cemitérios da capital francesa, um dos reis decidiu utilizar os túneis do império romano para o armazenamento. Durante o Iluminismo foi criado a única parte para a visitação. O exercício principal é imaginar o porque de aquelas vidas terem sido perdidas. “Esse morreu em um duelo, olha o buraco no crânio onde a bala passou”, imagino. Crio diversas histórias. Minha imaginação voa, mas um fato me chama a atenção. Todos eram iguais. Não havia distinções de riqueza, cor de pele, sexualidade e afins. Simplesmente diversas pilhas de ossos. Sem distinção. Não tem como não pensar em toda a nossa vida ou refletir sobre a nossa existência como humanos aqui na terra. Afinal, no fim, somos todos iguais. Feitos de carne e osso. De desejos e sonhos. De amor e ódio. Roupas, carros e festas caras nos definem? Não nas Catacumbas. Local onde jazem ricos e pobres, brancos e negros, homo e heteros… Todos iguais. Perdemos tanto tempo brigando e nos dividindo, com opiniões ferrenhas e fechadas, mas a vida não é assim. Muda constantemente. Cada dia perdido em discussões e brigas bobas é descontado de nosso tempo na terra. Viver é estar vivo. É viajar pelos dias e aproveitar as horas. É o cheiro do orvalho, o sorriso de uma criança. É o abraço amigo, a paixão… viver é amar. O sol começava a aparecer era fim da nossa visita as Catacumbas. Saímos em uma das tantas ruas de Paris. Hora de comer algo, voltar para o hotel e rumar para a nossa casa. Apenas com um certeza no coração: “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”. Hora de aproveitar cada segundo na terra.
quarta-feira, 31 de maio de 2017
Escasso tempo
O tempo… Escasso e contado segundo a segundo. Muitos falam em prisão e falta de liberdade. Porém acredito que nossa maior cela, seja o tempo. Não temos como fugir, não temos como impedir que ele passe e quando vemos já é hora de partir. Ultimamente, cada nova hora um novo compromisso e, talvez, por isso ele se esvaia tão facilmente de nossas mãos. Porém quando estamos no campo, sem nenhum encontro ou atividade, apenas com a missão de ficar na varanda vendo-o passar é que essa velocidade diminui. Machado de Assis em um de seus textos dizia mais ou menos assim: “O maior monstro é o relógio de parede, só o de minha casa já devorou duas gerações de minha família”. Inevitável… Agora a grande pergunta é: O que fazemos com esse tempo? Muitos ficam invejando os mais ricos ou então desejando mulheres ou homens perfeitos dignos comercial e se perdem. Vivem na imaginação ou na espera de alguém perfeito. Outros vivem a procura de dinheiro, aplicando golpes e passando por cima de quem estiver em sua frente. Não enxergando pessoas, mas sim cifras ambulantes. Bajulando os ricos e renegando quem não o seja. Muitos gastam sua única vida perdido em drogas e festas sem parar. Quando acordam …. Já é tarde demais. É por isso que devemos procurar aproveitar o cantil inútil das horas que enchemos a cada dia. Viajar, fazer novos amigos e buscar sempre auxiliar ao próximo. Afinal, a cada dia vivido descontamos um no relógio da vida. Os segundos estão passando, o ponteiro não para… É hora de construirmos nossa estrada. “Não pare na pista é muito cedo pra você se acostumar/ Meu bem não desista, se você para o carro pode te pegar”, cantava Raul Seixas. Não podemos parar…. Vamos viver cada segundo, até porque não sabemos quando o relógio irá parar.
quinta-feira, 25 de maio de 2017
Crônicas de um intercambista: O landlord sem noção
Estava dormindo em minha cama, tranquilamente, quando começou a batida na porta. “De novo não”, pensei. Fingi que não tinha ouvido e continuei a dormir. De repente a porta do quarto se abriu e fechou rapidamente. Era ele novamente, o landlord sem noção. Ele tinha uma cabelo grisalho e já devia estar na faixa dos 50 anos. Estava a procura do Denis, um dos que moravam comigo, naquele “apertamento” de dois quartos, cozinha e banheiro. Por um tempo, ele não aparecia no local. Porém quando começou eram praticamente diárias as visitas. E todas as vezes a procura do nosso amigo das Ilhas Maurício. Sentava em uma cadeira e ficava conversando e conversando com ele sem parar. Era um incômodo para todos.
- Não aguento mais ele! Eu vou me mudar! É todo dia, só vem aqui. Ele é louco!
Reclamava sempre o meu amigo. E eu já a procurar outro local. Era bem localizado o apartamento. Bem no centro, ficava a cinco minutos da escola onde estudava inglês. Os meus roomates eram muito legais e gostava de morar. Porém o preço do aluguel e aquele incômodo permeavam meus dias. Nunca se sabia quando começariam as batidas na porta. Por diversas vezes fingíamos que estávamos dormindo e ele ia direto no quarto a procura de Denis. Incontáveis vezes estávamos na sala conversando quando ouvíamos as batidas. Olhávamos um para o outro e todos iam se “esconder” em seus quartos. O cara era tão inconveniente que mesmo sem resposta abria a porta, entrava e ia bater nos quartos.
- Teu namorado está te chamando Denis.
Brincávamos. Acredito ainda que ele estava apaixonado pelo Corinthiano Diego que dividia o quarto comigo. Já que no pequeno prédio havia mais uns cinco apartamentos e ele só ia onde morávamos. Brincadeiras a parte. A situação só foi melhorar quando me mudei. Adorava o pessoal da casa e tenho certeza que essas amizades é que ficarão. Mas quando se é intercambista tem que se buscar opções mais em conta. E com o landlord sem noção, foi a gota d’água. E foi assim que fui parar no 44 Seville Place, uma casa que tem muitas histórias para serem contadas aqui. E sim, me mudei bastante enquanto estava na Irlanda. Em oitos meses foram três mudanças ao todo. O que me permitiu conhecer muitas pessoas e, também, muitas histórias. E landlord para quem não sabe é o locatário. Quanto ao destino daquele sem noção, nem quero saber.
terça-feira, 23 de maio de 2017
O orgulho de ser brasileiro
“ Minha terra tem palmeiras,onde canta o sabiá. As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá…”. O trecho do poema Canção do Exílio de Gonçalves Dias é uma ode à saudade que permeia os dias daqueles que foram “exilados” do Brasil. Milhares que tentam a vida em outros países. Com a certeza, porém, em seus corações de que não há no mundo lugar melhor que sua casa. O orgulho de ser brasileiro. Algo que precisa ser resgatado. Apesar de toda a corrupção e da falta de infraestrutura e segurança. Apesar de muitas vezes vivermos no caos. Ser brasileiro é muito mais que isso.É samba, feijoada e bola no pé. Alegria, bom humor e força. Força para nunca desistir. Isso é o que define o nosso povo. Perfeito? Longe disso. Mas é quando se está fora do país que se percebe o quanto se ama ou não a sua casa. Colocar aquele samba para bater a nostalgia, ou então um sertanejo, um axé e assim vai. Os ritmos que embalam a nossa sociedade. Aposto, que se vivêssemos como no primeiro mundo, ninguém abandonaria o Brasil. Ninguém seria forçado a ir ao “exílio” para tentar uma vida melhor. Ao menos uma vida onde se tenha dignidade e que todos os seus bens não sejam divididos em parcelas. Temos muitos problemas: corrupção, sucateamento da saúde e educação, falta de infraestrutura e assim vai. Porém no fim do dia, quando o sol desce o horizonte e aquela bela paisagem se forma você entende o porque de amar tanto esse país. Não podemos pensar que nossas mazelas nos definem. Não podemos deixar que isso aconteça. Somos muito mais que isso. O Brasil é maior que todos nós. Não podemos deixar morrer a chama verde e amarela dentro dos nossos corações. Nem tampouco ter orgulho de nosso país apenas quando a Seleção entra em campo. Tudo o que estamos passando é a nossa adolescência. Esse período da vida em que estamos em constantes crises. E dessa forma vamos nos encontrando e desenhando nosso futuro. É preciso desse caos para que a mudança ocorra. O que me preocupa,porém, não é o latido das ruas, mas o silêncio dos honestos. Temos que ser mais participativos. Quantas audiências públicas jazem vazias nesse momento? Quantas sessões plenários sem ninguém para acompanhar? Esse silêncio que preocupa. Não podemos pensar, porém, que isso é o que nos define. Que ser malandro é igual a ser brasileiro. O orgulho de sermos desta terra abençoada não pode morrer. Tenham certeza que todos aqueles que saíram das nossas fronteiras, vivem em nostalgia. Ouvindo samba, sertanejo, vaneirão, axé… Qualquer música que os traga de volta ao seu cantinho. Tenhamos orgulho de sermos brasileiros e que não desistamos do nosso país. Afinal, amanhã vai ser outro dia. Viva ao Brasil!
quinta-feira, 18 de maio de 2017
Crônicas de um intercambista: Um dia de terror
Era hora de irmos de Roma para Vienna. Já estávamos na fila gigantesca do embarque a horas e nada de o avião chegar. Passando mais algum tempo fomos liberados para entrar na aeronave. Logo ao subir a bordo percebi que o avião era diferente do que estávamos habituados. Ele era menor. Antes de preparar para a decolagem o comandante avisou “ todos os passageiros que tiverem objetos soltos, favor guardá-los”. Não tinha entendido o porque deste aviso. Pelo menos até a decolagem. Como era pequeno o avião balançava muito. Porém a viagem foi tranquilo. Até o momento que ouvimos dos auto falantes:
Não consegui escutar nada mais nada.Já que de repente a aeronave embicou em descida. Em um ângulo quase de noventa graus. Pelo menos essa era a minha sensação e dos meus amigos. “ Estamos caindo, fodeu!”, pensei me defendendo segurando o banco. E o avião continuava sua trajetória hora virando para um lado, hora para outro. E continuávamos sem entender o que estava acontecendo. O pânico de todos os passageiros ganhou uma voz:
- Estamos preparando para o pouso…
Não consegui escutar nada mais nada.Já que de repente a aeronave embicou em descida. Em um ângulo quase de noventa graus. Pelo menos essa era a minha sensação e dos meus amigos. “ Estamos caindo, fodeu!”, pensei me defendendo segurando o banco. E o avião continuava sua trajetória hora virando para um lado, hora para outro. E continuávamos sem entender o que estava acontecendo. O pânico de todos os passageiros ganhou uma voz:
- Madre de Dios!!! - Gritou um dos passageiros.
E o calvário continuava... O avião em descida, aparentemente, nada reta. E as orações a todo o vapor em nossas cabeças. Parecia uma montanha russa. Até que começamos a ver o aeroporto e, após, sentimos o solavanco das rodas tocando a pista de pouso. Transformando o terror em alívio. Era hora de conhecer as belezas da capital Austríaca.
E o calvário continuava... O avião em descida, aparentemente, nada reta. E as orações a todo o vapor em nossas cabeças. Parecia uma montanha russa. Até que começamos a ver o aeroporto e, após, sentimos o solavanco das rodas tocando a pista de pouso. Transformando o terror em alívio. Era hora de conhecer as belezas da capital Austríaca.
terça-feira, 16 de maio de 2017
Um segundo...
Um segundo e tudo mudou. As mãos que antes coloriam o mundo, agora jazem vazias. Os olhos que se enchiam de esperança, agora são feitos em lágrimas. As pernas que carregavam a bola, já não conseguem se mover. Um segundo. Um segundo e tudo poderia ter sido diferente. Talvez se não tivesse bebido tanto. Talvez se aquela curva não fosse tão fechada. Se outro carro não tivesse vindo em sua direção. Um segundo e a escuridão tomou conta de seu corpo e de sua alma. O som do pneu… foi tudo o que restou. Até abrir os olhos novamente e não sentir-se mais. Um momento breve que mudou o mundo, seu mundo. Agora já não desfilará mais pelos campos de society de sua cidade, nem pintará o mundo e as cenas da vida. Mais uma vítima. Do que mais mata no mundo: o trânsito. Um segundo foi o que precisou a vida para mudar seu rumo. Para matar a esperança que aquece o coração e que move cada ser. Os amores e amigos reaparecem. Muitos que há anos já não via mais. Porém apesar de todo amor, a solidão é o que acompanha seus dias. Uma luta solitária. Uma dor solitária. Se apenas aquele momento fosse diferente. Se naquela brevidade as pálpebras cansadas resistissem ao cansaço. Tudo mudou na brevitude e velocidade de uma raio solar. Um segundo… Apenas um segundo. E tudo o que conquistara se esvaiu e se perdeu no bolsão do tempo. Costumava viver plenamente e desfrutar dos prazeres do mundo. Agora, em sua cama, apenas assiste o noticiário. Na roleta-russa da vida… a bala foi desferida. Acertando a coluna e o coração. E uma palavra rodeia a mente: Por quê? Tudo aconteceu. A festa, a música e as mulheres. Hora de ir embora… Uma curva e tudo mudou. Talvez se não tivesse bebido, talvez se tivesse ido embora mais cedo ou pedido para outra pessoa dirigir. De nada adianta agora. Os olhos percorrem o quarto. O mesmo onde muitas aventuras e festas ocorreram. As lembranças são o único motor a funcionar dentro de si. Até que um sorriso aparece em sua visão. O amor… o amor é a resposta e a esperança novamente começa a acender em sua alma. Um segundo… Apenas um segundo e tudo seria diferente. A roleta-russa da vida disparou uma bala. Apenas um segundo.
quinta-feira, 11 de maio de 2017
Crônicas de um intercambista: O Desafio
Em uma das tantas aulas de inglês, em Dublin, fomos ao museu da guerra, o qual acabaria retornando no meu último dia de aula com outro professor. Você pode não saber, mas os irlandeses adoram uma batalha. Lutaram pela independência dos EUA e do Canadá, por exemplo. Sendo que neste último país teve o único regimento a lutar com o kilt. Sim! Foram os irlandeses que o criaram, apesar de os escoceses terem o adotado. E assim a lista foi crescendo. Até que decidiram lutar pela própria independência, criando, desta forma, o IRA. Uma parte do museu é destinada para contar esta história. Estávamos observando e eu conversa com meu professor Christian e ele falava a todo o momento:
- Nós lutamos em todas as guerras. Já lutamos por todo mundo. Era só chamar que íamos, mas nunca lutávamos por nós.
- Pelo Brasil vocês nunca lutaram. - respondi.
- Lutamos sim! Quer apostar?
- Quero!
- Uma pint?
- Apostado. - apertamos as mãos.
“Nunca que os irlandeses viriam lutar pelo Brasil”, pensava eu. Estava certo disso. Continuamos a visita, inclusive havia uma parte do museu que podíamos colocar as vestes e empunhar as armas antigas para fotografias. Foi uma manhã muito agradável. Porém chegando na escola, Christian tratou de logo procurar sua resposta. De repente aparece ele, no fim da aula, com uma folha todo sorridente, parecendo uma criança:
“Nunca que os irlandeses viriam lutar pelo Brasil”, pensava eu. Estava certo disso. Continuamos a visita, inclusive havia uma parte do museu que podíamos colocar as vestes e empunhar as armas antigas para fotografias. Foi uma manhã muito agradável. Porém chegando na escola, Christian tratou de logo procurar sua resposta. De repente aparece ele, no fim da aula, com uma folha todo sorridente, parecendo uma criança:
- Está aqui! Lutamos sim! Te falei! Nós lutamos em todas as guerras pelos outros.
- Não acredito.
Comecei a ler e, sim, ele estava certo. Um navio saiu de Cork, uma cidade Irlandesa, com cerca de dois a três mil homens para lutar pelo exército brasileiro. Foi um reforço pedido por um coronel irlandês que fazia parte da armada de nosso país, na época do imperador Dom Pedro I. Já que estávamos em guerra com a Argentina, pelo território onde hoje situa-se o Uruguai. Fiquei muito surpreso. Realmente a história da Irlanda esconde muitas facetas. Até hoje, porém, não paguei a aposta… Sabe como é... Intercambista…
terça-feira, 9 de maio de 2017
O Encontro
O sol escaldante fazia Pedro suar e reclamar daquela situação. Caminhava pelo centro da cidade pensando na vida. Até que seus olhos focaram em um rosto que vinha na direção contrária. Olhares cruzados e uma dúvida: “O que ela está olhando?”. Até que percebe seu corpo ser tocado por aqueles braços.
- Tudo! E com você? - Respondeu enquanto sua mente buscava desesperadamente uma memória daquele rosto moreno e jovial.
- Tudo indo néh!? Sabe depois da morte do Rogério, naquele acidente trágico, não fui mais a mesma. Ele era tudo para mim. Agora estou assim…
- Nossa nem me fala… - O desespero aumentando e nada daquele rosto. E agora mais uma dúvida: “Rogério? Quem é?”.
- Oi Pedro, Tudo Bem?
- Tudo! E com você? - Respondeu enquanto sua mente buscava desesperadamente uma memória daquele rosto moreno e jovial.
- Tudo indo néh!? Sabe depois da morte do Rogério, naquele acidente trágico, não fui mais a mesma. Ele era tudo para mim. Agora estou assim…
- Nossa nem me fala… - O desespero aumentando e nada daquele rosto. E agora mais uma dúvida: “Rogério? Quem é?”.
- Não sabia que você tinha chegado a conhecer ele. Você nunca foi lá em casa.
- É sabe né!? Correria.. - “Puta que pariu! Quem é esse cara?” - Mas você nunca levou ele em nenhum encontro nosso… - Falou chutando alto.
- E como eu levaria?
- Ah! Convidando e indo…
- Como? Você queria que eu levasse meu cachorro? Nossa, você é mesmo estranho. Você lembra de mim, certo?
“Admito que não lembro sendo rude ou contínuo normalmente essa conversa? Cachorro… com nome Rogério! Quem faz isso, senhor?”, pensava enquanto aqueles olhos verdes o fitavam em busca de uma resposta.
- Claro que sim! Como eu poderia esquecer…
- Ufa! Passamos tantos domingos juntos.
- É verdade.. - “Domingos? Domingos?... Uma memória por favor!”
- Lembra? Lembra mesmo? Você não tá com cara de quem lembra! Qual meu nome?
E o desespero tomou conta de Pedro. O que fazer? Quem era aquela mulher? “ Uma memória! Só uma!”, suplicava e nada. Colocou a mão no peito e…
- Que dor!
- Ai meu deus! Será que é algo grave?
- Não sinto meu braço esquerdo.
- Isso é sinal de infarto! Vou ligar para a ambulância.
Sem saber o que fazer, Pedro continuou a encenação. Já a caminho do hospital o socorrista pergunta:
- Qual o nome dele?
- Pedro Albuquerque. - Responde a moça sem titubear.
- Mattias! Pedro Mattias! - Berra com todas as suas forças. Nossa, achei que era outra pessoa, desculpa moço, você não tem irmão gêmeo?
Sem saber o que fazer, Pedro continuou a encenação. Já a caminho do hospital o socorrista pergunta:
- Qual o nome dele?
- Pedro Albuquerque. - Responde a moça sem titubear.
- Mattias! Pedro Mattias! - Berra com todas as suas forças. Nossa, achei que era outra pessoa, desculpa moço, você não tem irmão gêmeo?
quinta-feira, 4 de maio de 2017
Crônicas de um intercambista: A mística e beleza do Newgrange
Preparamos tudo, alugamos um carro e era hora de começarmos nossa Road Trip. Saímos de Dublin pela manhã cedo. A primeira parada: “Newgrange”. Uma tumba mais antiga que as pirâmides do Egito. Construída em 3.200 A.C. Chegamos ao local e na entrada um museu interessante com artigos e utensílios encontrados dentro das edificações. Inclusive um objeto que chamamos de o “primeiro” vibrador do mundo, que era utilizado em rituais de fertilização. Pelo menos é isso que acreditam. Descobrimos, no local, também, que na verdade aquele era um complexo com três “grandes” edificações e mais de 20 pequenas. Dowth, Newgrange e Knowth. Decidimos então que visitaríamos apenas Knowth, já que nosso tempo era curto e devíamos pegar os ônibus que saiam do “museu”. A paisagem era de tirar o fôlego. Chegamos no local e logo a guia começou a contar as histórias. O ambiente e as casinhas lembravam muito o cenário dos Teletubies. Entramos no local que acreditam ser uma tumba, além de ser utilizado por sacerdotes e cultos. Porém simplesmente pouco se sabe sobre a civilização que ocupava aquele local. Já que não existia escrita. No lado de fora um pequeno espaço com pedaços de madeira, também, utilizado para cultos. Acredita-se que as pessoas viviam até os 25 anos naquele tempo. Devido as condições de moradia e conservação dos alimentos. O mais impressionante é que devido ao seu formato estilo “morro”, onde a grama cobre a edificação. A tumba ficou escondida por anos, sendo que até um castelo foi construído em seu topo. Mas o que me chamou atenção mesmo é o fato de que simplesmente nada se sabe sobre esse período. “ O que será que acontecia? Quem eram essas pessoas?”, me perguntava. Sem resposta. Mais um dos mistérios do mundo. É difícil aceitar em uma sociedade como a nossa que se move e se alimenta de informação, que não sabemos nada sobre essa população. Estava eu lá, com 25 anos, idade em que, naquele tempo, seria um ancião. Era difícil conciliar. E em um instante toda a minha vida passou em minha mente. Incrível como todo aquele mistério em torno daquelas edificações, me relembraram que não sabemos de nada. Porém, não podemos, deixar transparecer esse fato. Principalmente nas redes sociais. Batemos muitas fotos daquele dia. E tive a certeza de que o único propósito da vida, não é saber tudo ou ser o mais inteligente, bonito ou com mais bens. Mas, sim, um momento dividido com pessoas especiais. Uma roda de amigos. O contato humano. Enfim, viver cada segundo. Afinal, de que adianta uma boa história sem ter para quem contá-la? Terminamos nossa visita. Entramos no carro e continuamos nossa viagem. Impressionados com a beleza e a mística daquele local que apesar de receber milhares de visitantes todos os dias, continua tão desconhecido.
terça-feira, 2 de maio de 2017
A reforma
Quando Dom João VI chegou ao Brasil, fugindo de Napoleão, trouxe consigo diversas heranças para o nosso povo. Entre elas uma em especial perdura até hoje. A corte do rei era tão inchada e cheia de ministros que para manter seu custo ele se viu obrigado a vender títulos de realeza como Duque, Cavaleiro, entre outros. Tudo para sustentar um governo inchado e corrupto. Como nossa corte atual. Ministros e mais ministros que nem sabemos ao certo quantos. Uma câmara de deputados que jorra dinheiro aos montes. Com auxílios impensáveis para quem ganha mais de R$10 mil em um país que o salário-mínimo é tão baixo. Verbas de gabinete exorbitantes. Uma vida de exageros. Mas a corte não pode se sacrificar pelo país, não é mesmo? Quem deve pagar é o trabalhador. Afinal que absurdo não contribuir 40 anos ou trabalhar até 65 ou 62 anos? Enquanto a corte se aposenta pelo simples fato de ter sido eleito para um cargo público. Empregados pagam a vida toda para ganhar uma miséria, enquanto vemos políticos com 3,4 aposentos ganhando R$10, 20 mil… Será que tem algo errado? Como uma conta dessa irá bater? Sem contar que os recursos que deveriam financiar a aposentadoria do trabalhador são utilizados em outras áreas. Resumindo, estão vendendo os direitos trabalhistas em nome de uma recuperação econômica que nada tem a ver com os trabalhadores. Afinal, quem desregulou as contas públicas? Tal qual o rei português, o governo vende ideias fajutas para dividir a população e continuar com todas as regalias de sua corte. Quer dizer… o povo brasileiro tem que se sacrificar, enquanto os abençoados vivem no céu da assembléia. Mas o problema é a arrecadação. Vejam o Rio de Janeiro, onde entregavam dinheiro para os políticos corruptos em mochilas. Coitados, em cada uma dessas só cabia R$500mil. Mas o Brasil é um país pobre… para quem não faz parte do clube. O governo é rico, mas gasta mais do que arrecada. E não poderia ser diferente já que a corte é tão grande que mesmo esmagando e sufocando empresas e trabalhadores com altos impostos a conta não bate. Mas até quando? Querem modernizar as leis trabalhistas, mas não modernizam a tabela SUS. Um Sistema que muitas vezes não paga nem 20% do valor dos procedimentos realizados nos hospitais. Resultado… a falência do sistema. Querem “modernizar” as leis trabalhistas com um estado atrasado, inchado e ineficiente. Tal qual o governo de Dom João VI. Enquanto brigamos e nos dividimos… Quem vence? Pense nisso.
quinta-feira, 27 de abril de 2017
Crônicas de um intercambista: Uma noite em Amsterdam
Amsterdam uma cidade famosa pelo fato de ser liberada a maconha. Onde você encontra de camisinha a energético feitos de Canabis. Porém uma cidade que é muito mais que isso. Com uma arquitetura fantástica e uma beleza ímpar. Padarias, casas de queijo, entre tantas outras coisas. De Berlim pegamos um ônibus noturno, para dormir é claro, até Amsterdam. Chegamos de manhã cedo e a estação estava fechada. Esperamos ela abrir e ainda dormimos mais um pouco até chegar o primeiro trem. A noite decidimos fazer um “Pub Craw”, onde você vai com um guia de pub em pub e ganha uma dose em cada local. Esse era na Red Light, pagamos um valor, que não me recordo, e no primeiro pub tínhamos direito a 30 minutos de vodka liberada. Era só pedir e uma mulher lhe servia no bico. Na camisa do Pub Craw já estava escrito: “Uma noite que você não lembrará, mas nunca esquecerá”, em uma tradução livre. Achamos uma mesa e sentamos eu e meus amigos. Começamos a beber e logo um grupo de uns três caras e uma menina loira começou a berrar e dançar. Continuamos nossa conversa, mas observando aquela loucura. Até que um dos caras simplesmente abaixou o calção, ficou pelado e o levantou uns minutos depois. “ Eles devem estar muito loucos”, comentamos. Ele fez isso umas três vezes e … ninguém deu bola. Era hora de sairmos para desvendar os pubs. Como falei estávamos no Distrito da Red Light, para quem não sabe, é o local onde se concentram as profissionais do sexo bem como tudo relacionado ao assunto. Inclusive peças de teatro, cabines de vídeo ou de sexo ao vivo. Antes de sairmos uma recomendação dos organizadores:
- Não batam foto de jeito nenhum. De celular ou qualquer forma. Se você ameaçar bater ou fazer algum tipo de imagem você vai ter que se virar com os cafetões. É terminantemente proibido qualquer tipo de imagem.
Enfim, começamos a andar pelas ruas e logo a primeira vitrine apareceu, uma mulher morena de lingerie chamava homens e provocava no espelho. E assim fomos caminhando até o primeiro pub. Primeiro shot e aquela hesitação de não conhecer ninguém que estava na mesma aventura. Encontramos, claro, alguns brasileiros e logo começamos a conversar. Em cada pub, uma característica diferente. Em um deles havia uma placa: “ Se for fumar maconha seja bem vindo, cigarro fume na rua”. Caminhamos por quase todo o distrito e era como se eu estivesse caminhando no centro da minha cidade. A diferença é que em cada vitrine havia uma mulher ou transexual dançando de lingerie. Algumas saíam na porta e mostravam os seios para chamarem os homens. Haviam todos os tipos de mulheres de todas as idades. A última parada era em uma “boate”. Estávamos animados para conhecer, afinal, era Amsterdam. Chegando lá a decepção veio com tudo. O local era pequeno, apertado e o som era como se fosse um heavy metal da música eletrônica. Um ritmo pesado e um cara com moicano ficava cantando uns versos aleatórias em uma língua impossível de decifrar, acredito que era o holandês. Mas o local estava lotado e o pessoal não parava de pular. Era uma loucura. “Tem que estar muito chapado pra curtir isso”, pensei. Ficamos ali tentando entender o que estava rolando com nossos novos amigos brasileiros. Depois era hora de ir para o hostel mais doido da europa. Todo pichado e com um chuveiro matador por onde saiam três fios de água, um para o teto, outro para a parede e o último para baixo. Era o fim de uma noite em Amsterdam. Porque na outra dormiríamos na rua… mas isso é história para outro crônica.
terça-feira, 25 de abril de 2017
“ Ão Ão Ão essa não é a torcida do tigrão”
O juiz apitou o final do jogo e o Criciúma havia vencido a partida em casa, mas quem iria levar a taça Sandro Pallaoro era a Chapecoense. Enquanto erguiam o troféu merecido, maior parte dos torcedores aplaudiu o time do Oeste em um gesto de carinho. Porém não foi isso que marcou este jogo fatídico. Nem tampouco o gol do atacante Adalgiso Pitbull, que não marcava a alguns jogos. O que marcou foi a atitude de uma minoria insignificante. Pelo vídeo são cerca de 10 torcedores que se encontravam no setor da torcida “Os tigres”. Acredito que tenham visto o vídeo e não irei reproduzir as palavras cantadas, porque não posso perpetuar tais dizeres. Naquele avião, não estavam apenas a delegação da Chapecoense, mas pessoas com família e uma vida pela frente. Muitos destes, inclusive, vestiram a camisa tricolor como parte da comissão técnica, jogando ou atuando no staff do Criciúma. Uma parte do futebol catarinense e brasileiro morreu naquele dia. Talvez esses “torcedores” nem tenham percebido o quanto estavam machucando as famílias e o futebol em si. Provocação é natural e tem que existir, mas nunca a falta de respeito. E imediatamente duas cenas vieram de minha memória. A primeira em 2013. Final do Catarinense. Era o segundo jogo na Arena Condá, em Chapecó, e o Criciúma estava com a vantagem. Chegamos cedo, por volta de 9h da manhã, junto com os colegas da imprensa. Iria fazer a cobertura fotográfica. Logo encontramos torcedores carvoeiros. E o clima amistoso entre as torcidas era o que mais chamava a atenção. “ Se fosse um time da capital não seria assim”, diziam ambas as torcidas. Quando a delegação do Criciúma chegou ao estádio, a torcida carvoeira já estava aos montes e fez um corredor para a passagem dos atletas. Ao redor muitos torcedores da Chape observavam a cena. Durante o jogo muitas provocações sadias entre a torcida e o Tigre se sagrou campeão.Sentíamos que éramos muito bem vindos. Fomos os últimos a sair do estádio e até nos ajoelhamos na goleira e roubamos uma graminha. Coisa de repórter/torcedor. No jantar, antes de voltarmos, encontramos a delegação do Criciúma que relatava como haviam sido bem recebidos. Dois times do interior, duas torcidas que se identificavam. Outro momento foi a homenagem que a “Os tigres” realizou no dia seguinte a tragédia. Estendendo toda a solidariedade a nossos irmãos. Muitos torcedores participaram e um círculo foi formado para uma oração que terminou em aplausos para os guerreiros da Chape. Como a maioria fez enquanto a Chape levantava seu troféu. Porém pouco importa toda essa história, agora. Porque o que ficará marcado é da atitude desses poucos covardes. Nas manchetes, textos e no facebook não está escrito “ Alguns torcedores”. Mas, sim, “Torcida do Criciúma”. Uma imagem de anos construída pela organizada, destruída em cinco minutos de canto. Porque nos dias atuais uma fagulha de segundos pode provocar um incêndio que não tem como apagar. É hora de os torcedores se unirem e pensarem em um grande ato, pois só assim poderemos remediar as consequências do ato impensado de uma minoria. Está na hora, também, de os integrantes e líderes da torcida repensarem suas atitudes e começarem a controlar mais seus membros. Foi por atitudes como essa que a organizada antiga acabou e agora com novas pessoas a frente tenta retornar. Que esse clima de amizade e rivalidade sadia que sempre existiu entre ambos os times prevaleça. Quanto aos autores da vergonhosa cantoria, por favor, fiquem em casa e nunca mais se digam torcedores do Criciúma. Porque o futebol é uma festa e não uma guerra.
quinta-feira, 20 de abril de 2017
O Português
Uma das cidades que mais me marcou foi Porto, em Portugal. Principalmente pelo contato com nossa língua pátria. Esse foi o momento que tive certeza da diferença entre o Brasileiro e o Português. Chegava a ser engraçado. Um dia estávamos passando de bar em bar para conhecer um pouco da noite de Porto, até que ouvimos um grupo de portugueses berrar em nossa direção:
- Para falar Brasileiro aqui, tens que pagar.
Foi engraçado e começamos a rir. Outro momento foi quando um dos meus amigos foi comprar um copo de sangria que custa cinquenta cents. Ele chegou e com toda a sua brasilidade:
- Eu quero aquela sangria de R$0.50 centavos.
- És brasileiro não é!? Aqui não é centavos, é cents!
Mais um choque. Entre muitos outros… como palavras no passado terminarem em: ão. E nos textos históricos ficava sempre aquele dúvida de passado e futuro. Cada vez que ouvíamos os portugueses falar nos lembrávamos dos “manezinhos” de Floripa. Sem contar a semelhança de algumas avenidas. Todas as vezes que abríamos a boca já percebíamos os portugueses com um sorrisinho de canto de boca. Porque apesar de conseguirmos nos comunicar a diferença é grande. Só na entonação das palavras já se sabe quem é quem. Uma das passagens que marcou nessa viagem foi um almoço. Estávamos andando durante a manhã toda em um calor infernal. Estávamos com fome e decidimos parar em um restaurante bem família, digamos. O dono, coincidentemente, se chama João. Uma mulher veio nos atender, mas logo disse que não trabalhava ali e que estava apenas ajudando o amigo. Meus amigos foram de “Francesinha”, um prato típico de lá. Eu já pedi uma meia porção de feijão com arroz. Para acompanhar, claro… um vinho. Até que a mulher que nos atendeu sentou na mesa ao lado, junto com outras mulheres e uma criança. A comida chegou e começamos a comer e conversar. De repente uma das mulheres da mesa chamou o João para reclamar de algo e pronto…. estava criada a discussão. A mulher que nos atendeu se envolveu na briga e começou a defender seu amigo João. Ficamos apenas observando. Até que do nada, uma senhora, que acredito era a mãe do João, aparece com uma travessa de arroz e joga na mesa. Olha para a mulher, já acuada e fala:
- Porque estais a fazer espetáculo? Queres espetáculo?
- Olhou bem nos olhos da mulher que reclamava com aquela cara assassina.
A moça responde meio tímida depois de tantos bombardeios. Não lembro bem o que ela falou. Era o fim da briga. A comida era incrivelmente boa e bem caseira. Me senti um pouco no Brasil novamente. Pagamos e seguimos nossa peregrinação pelos pontos turísticos da cidade. Tendo a certeza de que, sim, descendemos deste país.
terça-feira, 18 de abril de 2017
Te ajudo…
“Eu te ajudo. Pode fazer”. Quem nunca escutou essas palavras e na hora H ninguém estava lá como havia prometido? Mania de brasileiro… Essa de querer agradar todos a todo o tempo e prometer o que invariavelmente não vai cumprir. Outro exemplo é o famoso: “Marcamos algo”, que nunca acontece. Ambos sabem que não irá acontecer mas prometem mesmo assim. E sempre aprendemos da maneira mais difícil: esperando a promessa ocorrer. Assim, ao longo da vida, essas palavras simplesmente vão perdendo o valor. Pelo menos em nossas terras tupiniquins. Até é surpreendente quando, por exemplo, quem prometeu ajudar realmente o faz. Ou então realmente ocorre aquele churrasco com amigos antigos. Talvez por isso vivamos em uma sociedade “papelizada”, onde tudo tem que estar escrito, assinado e escriturado para ter valor. Não que todos sejam assim, obviamente. Mas, que mania engraçada essa de falarmos o que sabemos lá no fundo que não vamos fazer. A pergunta que fica é porque o fazemos? Insistimos nessa ilusão de simpatia. Engraçado é observar como é comum ou, então, como é difícil dizer não. Melhor mesmo é mentir e depois evitar. Criamos um medo da verdade, um medo de parecer rude ou então falar o que realmente queremos ou podemos fazer. É por isso que é importante ter poucos e bons amigos. É por isso que temos que lutar sozinhos e batalhar da nossa forma, sem esperar nada. Somos neuróticos querendo agradar a todos todo o tempo. Claro, não são todos. Porém queremos sempre ser os “boas praças”. Quer dizer… isso na vida offline. Porque na online… é outra história.
quinta-feira, 13 de abril de 2017
Crônicas de um Intercambista: A Rosa de Berlim!
Uma rosa em meio aquele muro cinza me chamou atenção. Um posto de vigilância desativado que fazia parte do Muro de Berlim. E no meio daquele monstro acinzentado uma esperança rosa. Logo busquei o melhor ângulo e a fotografei utilizando um filtro Preto e Branco. Na busca de simbolizar o passado e o que aquela rosa representava: um recomeço. Ao lado um memorial com diversas flores e foto das vítimas daquele muro. Porém nenhuma delas simbolizava tanto, quanto aquele rosa perdida e solitária. O que faria ali? Tão distante das outras. Não sabia dizer. Era forte o sentimento. Muitas questões se levantaram em meu alter ego. Até que vi em um dos jornais a foto de uma senhora colocando a rosa naquele exato lugar. Sem entender alemão pesquisei na internet e descobri que ela era uma das vítimas daquele tempo nefasto que dividiu não apenas nações, mas famílias inteiras. Aqueles olhos simpáticos que ali, em meio a tudo que o Muro de Berlim representa, foram capazes de levar uma mensagem de renascimento. Simples e pura. Começava ali os ensinamentos que só a história alemã podem nos dar. Ainda faríamos, nesse dia, uma visita ao museu do Holocausto. Caminhando no sol e com nossas mochilas de 25kg. Mas isso deixarei para um outro texto… Quantas famílias divididas? Quantos irmãos que ficaram anos sem se ver? Ou que nunca mais se encontraram… Quantos desses muros construímos ao nosso redor? Muitas vezes, sem perceber afastando aqueles que mais nos são sagrados. Muros dentro de nós. Por toda a cidade encontramos partes desse passado sombrio. Inclusive com pinturas e grafites, uma forma de levar alegria e cor ao cinza daquele tempo. Começou com uma cerca, como entre os EUA e o México. Porém muitas pessoas pulavam do lado Soviético para o Capitalista. Principalmente, porque ela ficava próxima dos prédios. Até que decidiram construir duas barreiras, com um corredor no meio e diversas torres de vigia. Tudo para evitar que aqueles seres humanos pudessem exercer o maior direito de todos: a liberdade. Pelo menos no sentido de poder viajar ou visitar parentes no lado ocidental. Na realidade é até estranho. Se pararmos um minuto para pensar nós inventamos países, estados, cidades e línguas diferentes. Porém qual a diferença real entre nós? Nenhuma. Que quebrem os muros então! Talvez todas essas divisões e diferenças culturais sejam uma forma de dar sentido à existência humana no planeta. Dar um senso de pertencimento a algo. Porém no fundo, na base, somos todos iguais. Braços dados ou não, como diria a música. E a rosa? Provavelmente já deve ter perecido pelo tempo. Porém eternizada por minhas lentes e meu coração.
terça-feira, 11 de abril de 2017
O fim
Era o dia do velório do João, um dia chuvoso e triste. “Um exemplo para toda a família”, diziam os familiares. Um homem alto, com olhos azuis e forte. Porém depois de quase 50 anos trabalhando sucumbiu. Foram quase 70 anos de vida e quase zero de faltas no serviço. Aposento? Sim. Mas não foi suficiente, teve que continuar a trabalhar. “ Vou virar político”, dizia. Nunca viajou para outro país ou saiu de sua cidade. Passou a vida do trabalho para casa e da casa para o trabalho. Adorava sentar na varanda em sua cadeira de balanço e ficar observando as pessoas passarem na rua. Cada uma com sua história. “Eu conhecia todo mundo aqui, agora já nem sei mais quem são. Olha aquele guri com tatuagem! Que coisa mais feia”, costumava comentar quando sua esposa o acompanhava. A cidade continuava a crescer e a varanda teve de ser abandonada já que o volume de carros passando e a velocidade com que passavam na frente de sua casa o irritavam. Os vizinhos que costumava conhecer e jogar conversa fora haviam se mudado. O primeiro a vender a casa para a construção de um prédio onde havia ganhado um apartamento, já havia batido as botas. Já não tinha mais graça, inclusive andar pelo quintal, já que a única coisa que dava para se observar era mais um arranha céu. Quando percebera a sua era a única casa da antiga vizinhança que resistia. Olhava todos os dias aquelas construções monstruosas e sentia saudade, sentia que haviam roubado a única coisa que amava mais que tudo na vida: sossego. As doenças começaram a aparecer. Pessoas estranhas. Barulhos noturnos. Carros e mais carros. Sua inquietação era evidente. Já não tinha mais vontade de chegar em casa. Preferia ficar no trabalho e fazer mais horas e horas. Até que um dia, ao voltar tarde da noite, um jovem o abordou com uma faca na mão e anunciou o assalto. Sem saber o que fazer tentou se desvencilhar do marginal e caiu. Enquanto via ele correr, não sentia a sua perna e não conseguia levantar. Foi a terceira pessoa a passar pelo local que chamou uma ambulância. Já não podia mais andar. E a tristeza começou a dominar o coração. Nas suas últimas horas de vida. Foi até a varanda em sua cadeira e começou a relembrar dos momentos vividos naquela casa. Os filhos a correr pela vizinhança ou estragando alguma planta no quintal e como eles cresceram e já não frequentavam tanto a sua casa. Os vizinhos que já não estavam lá. E as horas passadas ali naquele local. Brincando de adivinhar o que estava na mente de cada um que passava. Aquele era o seu castelo. Deu um último suspiro e se foi… Era o dia do seu velório… e a chuva caía como as lágrimas de sua amada. Desde que casaram há 40 anos ela esteve ao lado de João. Na alegria e na tristeza. Até que a morte os separou. Diferente de seus filhos com suas vidas complicadas. Um já estava na segunda esposa e tinha uma filha do primeiro casamento. Já o outro continuava nas festas e bebedeiras. A vida era simples para o casal. “ A felicidade está nas pequenas coisas da vida. Simplesmente vivam meus filhos”, costumava dizer. Porém eles acreditavam que ele deveria viajar e fazer mais coisas. Mal sabiam que aquela casa e aquele quintal eram um mundo particular para João. Observar os animais, cuidar de sua horta e ficar na varanda…. Até ter seu mundo roubado pelos assombrosos novos vizinhos. Chegava a hora do enterro. Uma vida. Dias e dias. Anos… que se foram. Um ciclo que chegava ao fim. “ Ele não desperdiçou um dia de sua vida, como sempre pensamos. Ele viveu a felicidade em sua plenitude. Em seu mundo. Enquanto todos tentavam agradar aos outros ele se preocupava apenas em viver os sabores de sua simplória existência. Não precisamos de muito para isso. Apenas precisamos entender o quão bom é estar vivo e poder desfrutar de momentos na varanda”, discursou um dos filhos.
sexta-feira, 7 de abril de 2017
Crônicas de um intercambista: A briga com o Alemão!
Estávamos em Berlin e queríamos conhecer o campo de concentração Sachsenhausen que ficava próximo a cidade. Era hora de pegarmos o trem e, assim, começava a nossa saga. Simplesmente porque se você está na Alemanha não tem escapatória simplesmente a língua é um pouco complicada. Primeira dica é sempre utilizar o Google Maps, porque você coloca o destino e ele mostra os trens/ônibus e afins para que você chegue lá. Porque mapas em alemão!? É tipo como se todas as ruas fossem a mesma. Foi assim que começamos a pegar os trens…. Até que em uma das estações havia uma placa com linhas de trem escritas em alemão. Ora o que significa isso? Já não bastava em uma das vezes termos pego um trem em uma estação e na seguinte o motorista falar em alemão, o que não mudaria muita coisa se fosse em qualquer outra língua porque simplesmente é impossível decifrar o que falam. Até que o trem voltou para a estação onde estávamos. E agora? Pegamos o trem mesmo assim. E quando você entra em um desses a primeira coisa é… dormir. Chegamos na estação seguinte e não tinha mais trens. Nós tínhamos que chegar a mais uma estação. E novamente a placa estava lá. E você pensa… “Quem consegue falar essa língua? É só consoantes e consoantes…” Lembrei de quando chegamos em Vienna e olhei o mapa. Não entendia nada. Vale ressaltar que tínhamos passado por Porto, Barcelona e Roma, até então línguas familiares para nós. Nossa sorte que uma família de brasileiros estava no trem e comentaram ao ver a placa que os trilhos estavam em reparo e que teríamos que pegar um ônibus. Porém o tempo que ficamos observando aquela placa sem esperança havia-nos feito perder uma linha e tivemos que esperar. Depois dessa briga com a língua alemã, conseguimos chegar no campo de concentração… Mas essa parte fica para outra crônica. Já que tem muita história.
terça-feira, 4 de abril de 2017
Bem vindo ao Brasil
Uma blusinha, era tudo que ela precisava. Mas ao chegar na loja e ver aquelas milhares de opções a blusinha se transformou em uma calça, um sapato e uma bolsa. Era hora de pagar e o dinheiro? “É pra isso que existe parcelamento”, pensou. Chegando ao caixa uma surpresa:
- Você só pode parcelar se fizer o cartão da loja e ainda tem 10% de desconto. - falou a atendente.
- Então tá, 10% nas compras que eu fizer com ele neh!?
- Isso. Preciso da sua carteira de identidade e preencher um cadastro.
- Cobra alguma taxa?
- Não.
Depois de uma espera de 10 minutos. Tudo pronto. Finalizada a compra e o cartão na mão. “ Pelo menos agora tenho 10% nas compras”, pensou. Saindo dali foi até a farmácia e já aproveitou para colocar R$ 30 reais de crédito no celular. Era hora de ir para casa com a certeza de que fizera tudo que deveria. Até, pelo menos, o dia seguinte. Quando precisava realizar uma ligação urgente para uma cliente do seu salão de beleza e ouviu no outro lado da linha: “Saldo insuficiente para efetuar chamadas”.
- Mas como se eu coloquei crédito ontem.- Falou para sua funcionária.
- Ixi, bem vinda ao buraco negro da telefonia. Onde todos os seus créditos somem sem dar explicação.
- Que inferno! E agora?
- Manda um whats.
- Verdade! Pelo menos isso salva..
Ainda meio frustrada, decidiu que merecia uma nova jaqueta. Já que o inverno estava chegando e precisava renovar o guarda-roupa. Logo, o cartão veio a mente e voltou à loja. Escolheu uma peça e resistiu bravamente as novas tentações. Se dirigiu ao caixa e passou o cartão parcelando em 10 salvadoras vezes. Porém ao ver a conta….
- Nenhum desconto? Como assim esse cartão dá 10%!
- Desculpe, senhora. Mas esse desconto é apenas para a primeira compra.
- Oi? Me falaram que era em todas as compras!
-Então devem ter falado errado para a senhora.
Saiu esbravejando do local e com um sentimento de frustração que crescia. Jogou imediatamente o cartão no lixo. Chegando em casa ao olhar na caixa de correio mais uma surpresa do tal cartão…. Uma taxa de manutenção. Estava farta de toda hora ser enganada. “ Bem vindo ao Brasil….”, disse a si e entrou em casa, onde decidiu tomar um vinho francês para esquecer.
- Você só pode parcelar se fizer o cartão da loja e ainda tem 10% de desconto. - falou a atendente.
- Então tá, 10% nas compras que eu fizer com ele neh!?
- Isso. Preciso da sua carteira de identidade e preencher um cadastro.
- Cobra alguma taxa?
- Não.
Depois de uma espera de 10 minutos. Tudo pronto. Finalizada a compra e o cartão na mão. “ Pelo menos agora tenho 10% nas compras”, pensou. Saindo dali foi até a farmácia e já aproveitou para colocar R$ 30 reais de crédito no celular. Era hora de ir para casa com a certeza de que fizera tudo que deveria. Até, pelo menos, o dia seguinte. Quando precisava realizar uma ligação urgente para uma cliente do seu salão de beleza e ouviu no outro lado da linha: “Saldo insuficiente para efetuar chamadas”.
- Mas como se eu coloquei crédito ontem.- Falou para sua funcionária.
- Ixi, bem vinda ao buraco negro da telefonia. Onde todos os seus créditos somem sem dar explicação.
- Que inferno! E agora?
- Manda um whats.
- Verdade! Pelo menos isso salva..
Ainda meio frustrada, decidiu que merecia uma nova jaqueta. Já que o inverno estava chegando e precisava renovar o guarda-roupa. Logo, o cartão veio a mente e voltou à loja. Escolheu uma peça e resistiu bravamente as novas tentações. Se dirigiu ao caixa e passou o cartão parcelando em 10 salvadoras vezes. Porém ao ver a conta….
- Nenhum desconto? Como assim esse cartão dá 10%!
- Desculpe, senhora. Mas esse desconto é apenas para a primeira compra.
- Oi? Me falaram que era em todas as compras!
-Então devem ter falado errado para a senhora.
Saiu esbravejando do local e com um sentimento de frustração que crescia. Jogou imediatamente o cartão no lixo. Chegando em casa ao olhar na caixa de correio mais uma surpresa do tal cartão…. Uma taxa de manutenção. Estava farta de toda hora ser enganada. “ Bem vindo ao Brasil….”, disse a si e entrou em casa, onde decidiu tomar um vinho francês para esquecer.
quinta-feira, 30 de março de 2017
Crônicas de um intercambista: O Monge
Estávamos animados. Meus amigos e eu acabávamos de chegar na primeira cidade de oito em nosso mochilão pela Europa. Havíamos saído de Dublin, Irlanda, e depois de duas horas de vôo, a aeronave começava o procedimento de pouso no aeroporto de Porto, Portugal. A descida foi tranquila e dentro do horário, logo tocaram a famosa musiquinha da Ryanair, companhia famosa entre os intercambistas e europeus pelos seus preços baratos. Começava o procedimento que, ao fim da viagem, já estaríamos craques. Pegamos as bagagens e nos dirigimos para o guichê da imigração. Como era de se esperar, dois apenas estavam funcionando para pessoas não europeias e uma fila enorme se formara. Estávamos um pouco mais para a frente da metade quando um monge, provavelmente, tibetano com suas vestes típicas laranja e vermelha, cabelo raspado se apresentou no guichê. Continuamos conversando e nada de o monge ser liberado. Enquanto isso a fila andava. E nós, preocupados. “Olha lá o cara ainda não passou, será que vamos passar”, falávamos. E o monge continuava a conversar e puxar documentos. A tensão começava a bater. E a fila andando, mais lentamente, já que o monge ocupava um dos guichês. Quando estava próximo de minha vez tentei ouvir um pouco a conversa entre o funcionário do aeroporto e o monge que continuava ali. Falando e apresentando documentos. Já havia se passado, acredito, mais de 10 minutos. Liberado um guichê, era a minha vez. “ Putz, será que vão me barrar?”, pensei.
- Passaporte.
- Está aqui.
- Brasileiro é!?
- Sim.
- Tem muitos brasileiros a vir para cá. Estás em casa. Pode passar, tudo certo.- Falou o funcionário carimbando e me devolvendo o passaporte.
Ao meu lado, continuava o monge. Passei pela catraca e esperei meus amigos, que, também, passaram sem problemas. E o monge? Continuava lá. Claro, virou motivo de piada. Mas o mais engraçado era a paciência que ele demonstrava. Sem levantar a voz ou bater na mesa. Começamos a nos dirigir para o metrô, só que não encontrávamos a saída. Até que vi uma escada rolante e fui descendo, enquantos meus amigos falavam: “Não é aí o metrô”. Então um homem engravatado que estava na minha frente questionou:
- Estás a procurar o Métro?
- Sim. - Respondi segurando o riso, meio sem entender. Porque métro é unidade de medida em Brasileiro. - É aqui mesmo.
Chamei meus amigos e descemos, caminhamos uns 50 metros e chegamos na estação. Era hora de comprar o cartão “Andante”, para que pudéssemos usufruir por três dias do metrô ou métro. E a fila? Bem era igual aqui. Enorme. E seguimos nosso rumo, sem nunca mais encontrar o monge. Que deve estar ainda a apresentar documentos na imigração.
terça-feira, 28 de março de 2017
A chuva!
Enquanto a chuva caía muitos questionamentos vinham em minha cabeça. Que personagem… a chuva. Vale uma crônica. Muitas vezes amada e outras odiada. Algoz do amor e do ódio. Talvez a chuva seja a essência da dualidade da existência. Afinal, quantas cenas de pessoa chorando ou se beijando na chuva já passaram no cinema? Esse duplo papel é que é instigante e intrigante. Como no campo. Já que chuva de menos ou de mais podem destruir uma lavoura. Ela tem que ser na medida exata. Ou na cidade. Já que quando está calor, todos a querem mas se é demais provoca enchentes e destruição. Amada e odiada. Salvadora ou destruidora. Viram porque a chuva merece uma crônica? Não ela não me veio trazer memórias de criança. Mesmo que jogássemos futebol toda vez que sua presença era garantida. E que depois das partidas chegava molhado e sujo, mas com um sorriso no rosto. Os medos durante as tempestades e a chuva mandando seus raios avassaladores ou pedras de gelo. Você pode pensar nela apenas como um fenômeno natural. Com suas explicações científicas. Mas já parou para pensar na chuva como uma personagem? Que grande mensagem ela traria para a sua audiência, não acham?. Ou seria um espelho? Afinal, carregamos essa dualidade dentro de nós. Somos destruidores e salvadores. Responsáveis pelos maiores atos de amor e de ódio. Carregamos dentro de nós capacidade para construir ou destruir. Fertilizar ou secar. E como a chuva…. desempenhamos nosso papel dentro da natureza, que pode ser uma metáfora para a sociedade. Não me admira que a natureza seja mãe de muitos deuses antigos e lendas. Com toda essa força dentro de si. Bem como não me admira a existência de um deus humano. Afinal o que é a chuva? o que somos nós? Esse texto pode parecer besta. Porém muito mais do que respostas. Busco pelas perguntas. E no meio dessa tempestade de pensamentos que se transformam em frases, fica a certeza de que pouco controlamos a nós, os outros ou a chuva que caí nesse momento. Lavando ou inundando a alma. Trazendo amor, ódio, lamento e paz. Enquanto uma música toma conta do pensamento…. “Eu perdi o meu medo, meu medo da chuva, pois a chuva voltando para terra traz coisas do ar. Aprendi o segredo o segredo da vida, vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar….”.
quinta-feira, 23 de março de 2017
Crônicas de um intercambista: Uma noite em Bruxelas
Era noite e o sono já tomava conta. Havíamos passado o dia em Bruxelas, na Bélgica, andando por toda a cidade com as nossas mochilas. Tínhamos vindo de Amsterdam, na Holanda, e era hora de esperar na estação de trem a chegada do ônibus para Paris. Tranquilo, certo? Errado. Ao chegar na estação sentamos em um banco e o que chamou a atenção foi a sujeira do local. Era hora de dormir. Ou pelo menos foi o que pensamos. De repente um homem vestido com um terno e diversas roupas juntas carregando um carrinho cheio de coisas começou a brigar consigo e a conversar com algum amigo invisível. Falando e falando. Ele pegava coisas e voltava. Estava com uma tesoura na mão. Devido ao fato de não conseguirmos tirar um cochilo. Decidimos ir para outro banco. Tiramos a sujeira e sentamos. Meus amigos então deitaram e começaram a cochilar. Eu, por outro lado,não estava com sono. Então dei uma volta pela estação e, confesso, tive um pouco de medo. Parecia uma cena de filme. Com diversas pessoas estranhas e mal encaradas.
Não lembro exatamente o motivo, mas decidimos descer e esperar no pequeno espaço com umas seis cadeiras e um banheiro que era a sala de espera para os ônibus. Hora de cochilar? Não muito. Já que a porta automática ficava abrindo e fechando sem parar. Como se um fantasma estivesse entrando e saindo da sala. Então trocamos, mais uma vez, de lugar. Quando tudo parecia tranquilo, porém. Chega um inglês,que não me recordo o nome, com cabelo comprido, um terno batido e uma mala. Se dirige até o banheiro e tenta abrir a porta. Nesse momento, falei as palavras que iria me arrepender e muito:
Não lembro exatamente o motivo, mas decidimos descer e esperar no pequeno espaço com umas seis cadeiras e um banheiro que era a sala de espera para os ônibus. Hora de cochilar? Não muito. Já que a porta automática ficava abrindo e fechando sem parar. Como se um fantasma estivesse entrando e saindo da sala. Então trocamos, mais uma vez, de lugar. Quando tudo parecia tranquilo, porém. Chega um inglês,que não me recordo o nome, com cabelo comprido, um terno batido e uma mala. Se dirige até o banheiro e tenta abrir a porta. Nesse momento, falei as palavras que iria me arrepender e muito:
- O banheiro está fechado porque já passou da meia noite
- Sério? Queria ir para o hotel. - uma pausa - Vocês são de onde?
E assim começava mais um calvário. Ele sentou ao nosso lado e começou a falar e falar e falar. Sobre o Brasil, sobre viagens, sobre bruxelas e, nessa hora, perdi a memória. A única coisa que lembro era pensar: “Como vamos nos livrar desse chato”. Olhei para os meus amigos cansados de ouvir as histórias daquele ser estranho que não ia para o hotel de jeito nenhum. “Não pode ficar pior que isso. Um cubículo, uma porta abrindo e fechando sem parar e um inglês falando mais que dez faustões”, pensei. De súbito surge um policial com um cachorro rosnando alto, enquanto ele berrava que a estação estava fechada. O gelo começou no pé e terminou na orelha. Um homem que estava com sua mulher ao nosso lado foi pegar sua mala e quase foi mordido. Deu um pulo para trás. Então o guarda puxou o cachorro. Ele pegou a mala e saímos. E o inglês? Continuou falando. Mas, dessa vez, começou a interagir com as outras pessoas que aguardavam conosco. Enquanto isso, diversos ônibus chegavam com destino à Paris, mas de outras empresas. Aproveitei um desses embalos e falei para os meus amigos: “O ônibus chegou”. E saí. Eles me acompanharam. Só assim para nos livrarmos do chato. Mas ele se manteve firme e falando sem parar com os que ficaram.
O horário de saída era duas da manhã. Olhamos no relógio e o ônibus já estava atrasado. Após meia hora de uma espera angustiante, finalmente, ele apareceu. O motorista - um baixinho e careca que lembrava muito o ator americano Danny DeVito - desceu apressado e foi abrindo o bagageiro. Colocamos nossas mochilas e entramos. Foi quando vi que os assentos estavam cheios. “Estranho”, pensei. Sentei no primeiro banco disponível. Nesse momento o motorista entrou. Foi quando vi uma mulher e um homem vindo de trás do ônibus. Na hora que “Denny” ia fechar a porta. Eles o cutucaram:
- Com licença. Aqui é Bruxelas?
- Sim.
- É que vamos descer aqui.
- Meu deus! Eu esqueci completamente! Me desculpe! - Respondeu o motorista atordoado.
Desceu imediatamente, abriu o bagageiro e entregou as malas do casal. Correu para dentro do ônibus, pegou uma prancheta e começou a chamar nome por nome as pessoas que iriam descer ali. “ Quase que voltam para Paris”, pensei. Depois de todos descerem, apavorado, o motorista ainda deu mais um conferida. Seguimos viagem e finalmente consegui dormir. Quando acordei, já estávamos em Paris e outro motorista ocupava o volante. Era o fim de uma noite em Bruxelas.
terça-feira, 21 de março de 2017
A carne é fraca
Um gole de cerveja para apaziguar o calor que fazia. Era sexta-feira, Marcelo tinha encontrado João e foram tomar uma “gelada” no bar do Zé. Pelo menos é o que pensavam. Ao chegarem, o local já não era o mesmo. No letreiro: “Encantos Pub”. Ao entrarem viram uma decoração diferente. As meses haviam mudado de lugar. Mas o que mais chamou atenção foi o movimento. O bar do Zé estava sempre vazio. Pegaram as suas cervejas e sentaram em uma mesa ao canto, mais afastada do agito.
- Quanta gente. - falou Marcos
- Nem me fala rapaz. Nossa que música alta, nem da de conversar direito.
- É verdade.
- Nossa olha aquilo cara, que mulherada linda. Não podemos ficar vindo aqui não. Minha mulher não ia gostar e sabe…. A carne é fraca.
- Como assim a carne é fraca? Nao vai me dizer que tu caiu nesse golpe da operação da Federa “Carne Fraca”l?
- Não cara, não foi…
- Para de ser ridículo rapaz. Essa operação foi os americanos que pagaram a Polícia para fazer e assim desestabilizar o setor que mais cresce e exporta em nosso país. Para que eles possam abrir mercado para carne deles. Se bobear até o governo brasileiro teve participação para desviar o foco da reforma da previdência. Foram alguns frigoríficos só. A maioria é sério…
- Marco, não foi …
- Nem vem com esses argumentos aí de que essa espetacularização que a Federal fez tá certo. Porque eles podiam ter feito reservadamente essas prisões e não iria afetar a ninguém. Aliás, ninguém deveria ficar sabendo disso. Já pensou? E agora? É o fim da carne brasileira. Acabou. Milhares de desempregados. Não pensaram no interesse nacional.
- Mas cara eu não…
- Para,nem adianta argumentar que eu sou a favor de carne podre, frango com água ou da ilegalidade que não é isso que to falando. To falando desse circo montado. E nem adianta dizer que é porque os frigoríficos investigados vendiam em todo o território nacional e exportavam. E que isso é pauta nacional porque afeta milhões de brasileiros e eles tem o direito de saber o que estão consumindo, que não é bem assim. E não vem com essa de que o mercado agora vai regular e o consumidor vai ser mais exigente. Não era para ter sido assim. É que esses policiais acham que estão em um filme americano. Querem ser os heróis e prender os bandidos. Para né!? Tá na hora de eles se preocuparem mais com o trabalho deles do que fazer esse circo. Onde já se viu Policia prendendo bandido em rede nacional. As pessoas não tinham que saber e a imagem da carne brasileira tinha que ser venerada! Temos a melhor carne e agora isso para ferrar...
- Porra, cala a boca! - Berrou Marcelo aproveitando um segundo de silêncio- Eu não falei dessa merda de operação. Falei que não foi um boa ideia ter vindo aqui. Porque tem uma mulherada e a carne é fraca.
- Porra, cala a boca! - Berrou Marcelo aproveitando um segundo de silêncio- Eu não falei dessa merda de operação. Falei que não foi um boa ideia ter vindo aqui. Porque tem uma mulherada e a carne é fraca.
- Como assim?
- Fica nesse celular ai e não presta atenção. Tais chato heim!? Pede um petisco de carne com papelão ai que vou no banheiro.
E os dois caíram na gargalhada. Beberam até anoitecer e foram embora. Mas ficara a lição: Nada de celular na roda de conversa.
terça-feira, 14 de março de 2017
O Salvador
Olhos focados, dedos nervosos e muitas palavras digitadas em seu computador. Ideias e mais ideias. Mais um dia na sua rotina. Seus cabelos caídos e uma tatuagem em sua mão. A caneca de café ao lado. Mais e mais palavras no computador e pausa. Mão na caneca e um gole de café na boca. “ Acho que agora fui bem”, pensa. Logo os músculos da sua cara começam a se mover tentando expressar a indignação que passa em seu interior. “Isso não vai ficar assim!”, e o ciclo recomeça. Olhos fixados, dedos nervosos e mais e mais palavras digitadas. Sua mão se move na velocidade das palavras que passam por sua cabeça. Mas, desta vez, não houve pausa para o café. E logo se joga contra a cadeira com uma satisfação de quem acabara de devorar uma caixa de chocolate. “ Agora já era. Não tem resposta”, pensa. Até que novamente a indignação recomeça e mais uma vez o ciclo foi ativado. E assim foi por quase toda a tarde no escritório. Até que seu chefe começa a perceber toda a agitação. Fingindo que precisava pegar alguns papéis foi até a mesa perguntou:
- Tens o contrato?
- Está em cima desta pilha.- responde sem nem olhar nos olhos de seu superior.
- Está tudo bem?
- Está sim.
Vendo a falta de interatividade e interesse o chefe tenta dar uma espiada na tela. Porém com seus ligeiros dedos ele muda a tela e recoloca no software da empresa. Aproveitando para dar aquela olhada no homem grisalho que estava parado em sua frente.
- Mais alguma coisa?- questiona.
- Não. Era isso.
Tentou focar no trabalho, mas parecia que algo lhe chamava para a discussão acalorada que estava tendo em sua página no Facebook. Então entrou novamente nos comentários e lá estava o objeto de suas adagas afiadas. E o ciclo? Se reiniciou. “ Ele não pode pensar isso dos pobres”, pensa e dá mais um gole em seu café. “ A sociedade está toda errada. O mundo está errado. Pessoas passam fome e isso é o fator principal para o aumento da violência. Temos que mudar o país. Temos que mudar tudo. Nossos políticos, nossos juízes, nossa escola, nosso futebol, nossa economia. Tudo! Temos que agir. Alguém tem que colocar o Brasil de volta nos eixos. Tem que ter alguém”, pensa, escreve, apaga, reescreve e posta. Olha o horário no relógio do computador. “Chega de salvar o mundo”. Desliga o computador, pega as chaves da sua mercedes, se despede de todos e se vai.
- Tens o contrato?
- Está em cima desta pilha.- responde sem nem olhar nos olhos de seu superior.
- Está tudo bem?
- Está sim.
Vendo a falta de interatividade e interesse o chefe tenta dar uma espiada na tela. Porém com seus ligeiros dedos ele muda a tela e recoloca no software da empresa. Aproveitando para dar aquela olhada no homem grisalho que estava parado em sua frente.
- Mais alguma coisa?- questiona.
- Não. Era isso.
Tentou focar no trabalho, mas parecia que algo lhe chamava para a discussão acalorada que estava tendo em sua página no Facebook. Então entrou novamente nos comentários e lá estava o objeto de suas adagas afiadas. E o ciclo? Se reiniciou. “ Ele não pode pensar isso dos pobres”, pensa e dá mais um gole em seu café. “ A sociedade está toda errada. O mundo está errado. Pessoas passam fome e isso é o fator principal para o aumento da violência. Temos que mudar o país. Temos que mudar tudo. Nossos políticos, nossos juízes, nossa escola, nosso futebol, nossa economia. Tudo! Temos que agir. Alguém tem que colocar o Brasil de volta nos eixos. Tem que ter alguém”, pensa, escreve, apaga, reescreve e posta. Olha o horário no relógio do computador. “Chega de salvar o mundo”. Desliga o computador, pega as chaves da sua mercedes, se despede de todos e se vai.
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