quinta-feira, 13 de junho de 2013

Crônica de um amor

O amor simplesmente chega arromba a porta e entra. E não tem essa de pedir licença não. É na porrada mesmo. Às vezes pode demorar uns dias, meses ou anos, como, também, um instante. No meu caso demorou o tempo de um beijo. O primeiro beijo. Foi tiro e queda. Um beijo e já senti um estalo em meu peito. Uma certeza que vinha das profundezas do infinito e que acertava meu coração. Era o amor quebrando tudo ou a flecha de algum cupido. E , desta forma, começa o ciclo dos amantes. Primeiramente vem a ilusão de que tudo é perfeito e que sempre será. Até que alguma atitude do ser amado vem e bagunça tudo. E, desta forma, se aprende a primeira grande lição: “Quem ama perdoa”. Sim! Quem ama perdoa os erros do ser amado, não incluamos nessa máxima alguma traição. Porém não existe uma fórmula perfeita. Porque o amor não vem com bula, nem tampouco com alguma legislação ou código civil.  É um sentimento um pouco anárquico que se constrói dia a dia. Aprendendo com cada novo ato da vida conjugal. Até que os defeitos começam a aparecer, um por um. E, desta forma, aprendemos a segunda grande lição: “Quem ama compreende”.  Isso mesmo... Não existe amor, se não há compreensão. Digamos que, talvez, essa palavra seja o grande cimento de um relacionamento. Entender os defeitos um do outro e aprender a conviver com eles. Já que existem, também, as qualidades. E é ai que começa a se criar uma dinâmica de casal. E as coisas começam a andar e a serem decididas em consenso. Já que em um relacionamento não pode existir um mandante, ambos têm que se dedicar e se furtar de algumas coisas. Se a balança pesa apenas para um lado, problemas hão de surgir.  E é geralmente quando começam os problemas ou então algum engraçadinho começa a se aproximar que a sirene toca. E aí entra outro sentimento, irmão do amor: o ciúme. Quem não souber controlar esse sentimento, pode se dar mal. E assim, quando as suspeitas são infundadas, se aprende a ultima grande lição: “Quem ama confia”.  Não há sentido em se aventurar em um relacionamento sério se não houver confiança.  Claro que a confiança se constrói com o tempo e com as declarações dadas todos os dias. Sim! Todos os dias, para que nenhum dos dois esqueça o porquê de terem decidido encarar esse grande hospício chamado mundo de mãos dadas.  Talvez a confiança seja a base da casa do amor.  Confiança, perdão e compreensão. Palavras fundamentais, porque embora o amor invada nossa residência sem avisar é preciso tratá-lo bem para que ele fique aconchegado e não vá embora.  Há um ano o amor invadiu minha casa e junto com ele entrou a felicidade. 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Laços

As pequenas mãos tocam os dedos grandes e, após reconhecer o toque, o abraçam. O sorriso se faz presente na dona das mãos grandes e mãe das pequenas. Tão pequenas que lutam contra a morte. Porém o sorriso, por de trás dos tubinhos de oxigênio, é visível, enquanto as pequenas mãos seguram o grande dedo. Porém, quando a enfermeira vai ajeitá-lo outra energia toma conta da cena, como se o pequeno soubesse exatamente quem o está tocando, apesar de possuir apenas dois meses. É como se um cordão umbilical invisível unisse, mãe e filho. Uma magia, inexplicável. Que se faz presente nos olhos da mãe, que – cheios de lágrimas – sonham em ver aquele pequeno desfilar pelo mundo e encantar a todos. Olhos que tem dentro de si a esperança de ver, um dia, aquelas mãos serem utilizadas para o trabalho digno, para abraçar o amor e ajudar ao próximo. Olhos que, cheios de lágrimas, parecem sentir cada segundo de dor e agonia da pequena mão, que flutua no ar como se procurasse o grande dedo. A alegria se mistura com a tristeza. Alegria de ter, finalmente, conseguido ter um filho e tristeza por ele estar em uma incubadora entre a vida e a morte. Enquanto toca aquele pequeno, o sorriso se apresenta nos lábios da mãe. Porém quando se afastam, por um segundo,  o coração já começa a chorar.  Cada telefonema, um novo susto. E a luta continua. Sempre sendo renovado por aquele singelo segundo em que as pequeninhas mãos agarram com amor e ternura o grande dedo. Transformando física a ligação divina entre uma mãe e um filho. Que essas pequenas mãos não se esqueçam dessa batalha, nem tampouco das que virão. Para que, um dia, possa agradecer aos grandes dedos tudo o que foi conquistado. Que essas pequenas mãos, não sejam um dia significado de morte para aqueles olhos cheios de lágrima que tanto sonham com um futuro feliz para toda a família. Como tem acontecido, em alguns casos. Que dinheiro e bens matérias não façam esquecer o cordão invisível deste amor inexplicável. Deste sentimento divino. Os pequenos dedos agora repousam, enquanto a mãe sai do hospital. Acabou o horário de visitas. Porém no próximo dia ela retornará. Até que aquele pequeno possa em seus braços dormir, correr, chorar, ser amamentado e, enfim, viver plenamente

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Ser campeão!


A bola vai rolar, mas antes disso uma cidade se inflama. Olhos atentos a todos os movimentos dos gladiadores de amarelo, branco e preto. Uma cidade em movimento, que se desloca, a partir de hoje, a um só rumo: o titulo! Antes mesmo de os soldados entrarem na batalha, a nação tricolor já se prepara, compra a carne no mercado ou arruma a mala para a viagem, todos unidos pelo sentimento de ansiedade. Em um ônibus, em particular, encontram-se a caminho da ultima batalha, os guerreiros que defenderão a nação, na guerra contra o inimigo. Nos pés de cada um, porém, muito mais que meias e chuteiras, a esperança de cada cidadão desta nação se faz presente. Alguns podem, com todo o ceticismo, pensarem que isso não ajuda em nada... “É só política do pão e circo”.  Porém, tenho certeza, nunca viveram a emoção de levantar uma taça. Mas respeitemos as opiniões. Porém tenham certeza que, em Chapecó, estará em jogo muito mais que o titulo: estará em jogo a felicidade de uma nação. Serão 190 mil pessoas influenciadas por noventa minutos de uma guerra! Já que a alegria contagiará toda a cidade e na segunda-feira todos voltarão aos seus postos, na batalha do dia a dia, com uma motivação sem igual para aquecer nossa economia.  Uma cidade em chamas e ansiosa. Esperando que um grito, que há muito está preso, seja libertado sem pudor pelas ruas. Por um dia, ao menos, todas as dores e mazelas da vida cotidiana serão esquecidas. Todo o rancor, ódio e inveja, que fazem parte da vida humana, serão digladiados pela alegria! Porém, para que isso aconteça tudo dependerá do comandante e de seus comandados. Serão os noventa minutos mais longos da vida de todos os cidadãos desta nação tricolor. Cada segundo será como um dia, cada minuto, um ano. E até que seja ouvido o apito final, e o grito possa ser solto... Muitos corações quase enfartarão. Muito mais que uma final, muito mais que um jogo, é uma batalha onde se depositará a esperança, a felicidade de toda a República Federativa Tricolor, que acredita e espera soltar o grito que a muito não ecoa pelos bairros e vilas de Criciúma: “É campeão”. 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Eu aborto essa Ideia!

Uma senhora de 78 anos foi flagrada, pela reportagem de um jornal da região, realizando aborto através de uma injeção. Ela já havia sido presa em 2010 pela mesma prática. O preço era R$300 reais. Enquanto outra senhora vendia um medicamento proibido no Brasil, justamente porque é abortivo. Esses casos suscitam o debate sobre um tema que, ainda, causa assombramento no brasileiro: a legalização do aborto. Os favoráveis usam como base de seus argumentos uma gravidez fruto de estupro ou então a liberdade de escolha da mulher. Os contrários acreditam que um feto é uma vida humana e o aborto uma forma de homicídio. É fato, que com um Sistema Único de Saúde falido, legalizar o aborto só iria piorar a situação do Estado neste quesito. Pois uma nova máquina teria que ser colocada a disposição da população. Além disso, legalizar este ato seria criar um novo nicho mercadológico da medicina, tendo em vista que aqui tudo se comercializa. Será que não veríamos comercias do tipo: “Para gravidez indesejada, a solução é um aborto na Cliníca Almada”? Como a plástica (criada para refazer partes do corpo após acidentes), a essência da legalização do aborto (os casos de estupro) seria esquecida e qualquer mulher em qualquer situação usufruiria de tal direito. Mas se existe essa opção de maneira ilegal, onde a mulher corre mais riscos, porque não legalizar? Boa pergunta, mas se, assim fosse, teríamos que legalizar todos os tipos de drogas. Pois são vendidas ilicitamente e matam muita gente. Essa não é a solução. O Estado não pode ser conivente com tais práticas, transformando o que não é moral em legal. E quem poderia garantir que, mesmo em clínicas, o aborto não seria um grande risco a saúde da mulher? Afinal ela não está removendo uma verruga, mas uma vida que nascerá dentro dela. Seria seguro mesmo? Enquanto vemos crianças morrerem com injeções erradas, mulheres sofrerem, também, com esse erro médico? Legalizar o aborto é legalizar o homicídio. Quantos figurões não se sentiriam aliviados, já que, se engravidassem as amantes, teriam o que fazer? Teve tempo para fazer, tem que se responsabilizar. Aliás, quem disse que uma criança é um erro? Aposto que muitas mulheres que já realizaram o procedimento ilegal se arrependem de o terem feito, já que não terão o que comemorar no domingo, Dia das Mães. Uma vida vale mais que tudo. O pai da medicina, Hipócrates, já colocava nos juramentos que obrigava seus discípulos a fazerem, na Grécia Antiga, que era proibido realizar o aborto ou ensinar tal técnica para outros. O que se repete, ainda hoje, nos juramentos dos cursos de medicina. Uma vida vale mais que mil erros, mais que qualquer dinheiro, mais que tudo! Afinal qual seria nosso papel aqui? Se não reproduzir? O problema é que, hoje em dia, tudo tem que ser programado. Até a coisa mais pura e bela na vida humana: o nascimento de uma criança. Quando alguém os questionarem, respondam: “Legalização? Eu aborto essa ideia”.


sexta-feira, 3 de maio de 2013

No ringue da vida

Luvas a postos e começa a luta. A movimentação é grande, vários diretos passam no vazio. Até que um cruzado de direita acerta a face do oponente em cheio. Porém parece que ele nem sente a dor da pancada e continua a lutar. Após alguns segundos, outro cruzado acerta-o e nenhuma cara de dor, nenhum choro ou lamúria... Apenas uma resposta rápida com um direto.  É como se aqueles lutadores não sentissem dor alguma. Claro, que devem sentir cada golpe. Claro que deve doer, mas o “lance” é não demonstrar, para que o oponente não cresça na luta. Como dizia Rocky Balboa, em um de seus filmes: “O vencedor é aquele que resiste mais as pancadas”. E, assim, também é na vida. Somos lutadores, colocados em um ringue chamado sociedade. E lutamos contra diversos adversários, levando golpes duros. Alguns caem e não levantam, alguns levantam e param, alguns demonstram a dor e deixam as adversidades crescerem, outros respondem rápido com outro golpe e não deixam de lutar. Os socos podem vir de qualquer lugar. Porém temos de resistir se queremos vencer. Várias são as histórias de pessoas de sucesso, que, antes de alcançarem o topo, levaram duros golpes no ringue da vida. Quantas vezes ouvimos que não somos capazes, que não podemos chegar? E cada vez que ouvimos isso é como se levássemos um cruzado na cara. Devemos para por isso? Nunca.  A vitória, muitas vezes, vem da persistência. Michael Jordan foi rejeitado diversas vezes, antes de conseguir uma vaga em um time de basquete. Ninguém acreditava que Abraham Lincon poderia ser presidente dos EUA. Cafu foi rejeitado em diversas peneiras no futebol, até conseguir uma oportunidade. E muitos outros e, talvez, melhores exemplos existem por ai. Como um pai e mãe que sustentam seus filhos com apenas um salário mínimo. Pessoas que apesar dos golpes, no ringue da vida, não se deixam abater. Não demonstram sua dor e andam sorridentes. Michael Jordan, Abraham Lincon e Cafu, venceram porque, além do talento, não esperaram o juiz terminar a contagem, levantaram e partiram para luta. Portanto sejamos fortes, lutemos com perseverança e, nunca, demonstremos nossa dor. Simplesmente devemos nos levantar e continuar a luta, até que um dia tenhamos nossas mãos levantadas pelo juiz e sejamos declarados vencedores.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Mudo

E de repente o cronista fica sem palavras. Não porque elas tenham fugido, mas sim pela amplitude dos assuntos que podem ser tratados em uma crônica. Escrever não é apenas a arte de pintar com as palavras, mas, também, é visão, olfato, tato e paladar. É uma forma de alguém levar aos outros suas ideais e pensamentos. Mostrar o que existe de errado. Porém, hoje, o cronista está mudo. Simplesmente sem vontade de falar. Mudo pela falta de escrúpulos da maioria dos políticos. Mudo diante do “jeitinho brasileiro” de conseguir as coisas. Mudo diante de pessoas que só pensam em dinheiro e com seus “esquemas” enriquecem em suas tristes casas. Mudo diante da forma como a população é tratada. Sendo apenas números para que se vença a próxima eleição. Mudo diante da falta de Segurança, Saúde e Educação. Eixos que claramente estão ruindo. Hospitais fechando. Escolas sem estrutura e professores humilhados. Ataques de bandidos, aterrorizando a população colocando fogo nos ônibus. Mudo diante da falta de avanço e de obras públicas que começam a ruir, antes mesmo de estarem completas. Quem sofre? Além do cronista mudo, toda uma classe que trabalha mais de oito horas por dia, para receber um salário mínimo (Bem Mínimo), tendo que sustentar uma família. E, além disso, sustentar uma cadeia de politiqueiros que só pensam na próxima eleição e em formas de se manter no poder e desviar o dinheiro da massa. O cronista está mudo, porque neste país de ninguém as coisas acontecem apenas no mundo das palavras. Já que na teoria e nas leis... Tudo é belo e bonito. O problema é a prática.  São tantas coisas erradas e o sentimento de indignação e raiva é tanto, que o melhor é se calar. Já que parece que quanto mais lutamos, maior o número de corruptos. É claro, que os poucos políticos que sabem o significado desta palavra, se perdem em um mar de CPIs, e desvios públicos. O cronista está mudo, diante da falta de respeito com mais 100 milhões de pessoas que acreditam nesta pátria falida. Afinal somos brasileiros e não desistimos nunca. Espero, apenas, que um dia os políticos corretos tomem conta deste país e deixem de ser a minoria. Porque eles não representam apenas a si mesmo, mas sim a toda população. Afinal, a raiz de todos os problemas vem da falta de escrúpulos dessa maioria corrupta que governa o país. O cronista está mudo, só por hoje, pois o silêncio, também, é uma forma de protestar.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Lembranças de uma infância

Em certa manhã me desloquei à barbearia, a qual vou desde minha infância. O barbeiro, sempre com seu bom humor, começou a conversa. Primeiro sobre a vida, depois sobre como cultivar bananas e por ultimo sobre o tempo. Não sobre o clima, mas, sim, sobre aquele tempo subjetivo. As brincadeiras que passaram. A evolução de cada geração. Olhei-me, então, no espelho e me veio à memória que, naquele mesmo espelho, minha imagem é refletida há 10 anos. Em cada novo corte da tesoura uma lembrança aflorava. Aquela imagem possuía um cabelo liso loiro e cheio. No rosto, traços finos e infantis, além de um olhar de descoberta. Os cabelos eram tantos que enchiam o chão e a roupa. Além de muito loiros. Essa imagem é a que eu arrastava pelos campos de futebol. Lembro do nosso “campinho”, em frente à Casa de Saúde. Aquele gramado verde e nós – a turma da rua – jogando sem parar independente do clima. Depois do futebol, vinha a hora de andar de bicicleta ou jogar bolinha de gude. E a noite era regada a esconde-esconde ou pé na bola. Todo dia era uma ventura diferente. Quando chegávamos em casa, ligávamos o vídeo game. Os estudos? Bom... Sempre existia um tempinho para eles, também. Era fazer as tarefas e se jogar em uma nova aventura. Ao lado de casa, tinha uma selva com um paredão grande de rocha, onde funcionara uma fábrica de extração de areia. Escalávamos o paredão e nos divertíamos na floresta. Tínhamos até construído uma cabana. E, ali, inventávamos guerras entre Americanos e Russos, Brasileiros e Japoneses.... E assim, com nossas armas de balão, guerreávamos. Ou, então, íamos até a casa de um amigo e éramos ladrões e policiais. Em uma batalha fictícia. O barbeiro me faz uma pergunta e volto para a cadeira vendo-me no espelho com um sorriso bobo. Agora, porém, os cabelos já são poucos e encaracolados. O loiro já não é tão amarelo. Meu rosto tem traços fortes e poucas “madeixas”caem ao chão. “O tempo passa e rápido demais”, falo para o barbeiro. Após ele terminar o corte, saio em direção a minha casa. Não de bicicleta, nem tampouco a pé, mas com um cavalo de metal. Passo pelas ruas de minha infância e criança nenhuma vejo. O campo jaz vazio, como a rua. “Onde estão os jogadores?”, pergunto-me. Eles devem estar jogando futebol virtual, bolinha de gude virtual... Vivendo uma vida virtual. Os vizinhos do campo que agradecem por não terem mais suas casas invadidas por nossas bolas, nem seus telhados quebrados. A guerra agora é com os ladrões, tentando não deixar brechas na segurança. É o tempo passa e cada geração tem seu jeito de encarar a infância. Que saudade!É apenas o que posso dizer. Saudade do tempo em que ficávamos mais no real e menos no virtual. Chego em casa. E percebo que apenas dois, daqueles meus 10, 11 amigos, ainda vivem na vizinhança e mesmo assim pouco nos falamos. Porém na memória de cada um sei que está cada aventura, cada país que conquistado, cada campeonato ganho... Porque o tempo pode passar, mas as coisas boas ficam.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A prisão

As asas, mecanicamente projetadas, batem em um ritmo acelerado. O movimento leve e rápido faz com que flutue sobre o fundo azul. Nada o aflige. Em cada novo movimento apenas a preocupação de continuar voando. De repente, em sua frente, um fio preto - que não sabe o que é, “mas é bom pra descansar” - aparece. Pousa, então, para se deleitar com a imagem de um ser com seus óculos a observá-lo. Mexe a cabeça rapidamente, de um lado para o outro. Receoso pela imagem que o assola. Ao seu lado outros começam a se alojar. E esta feita a corrente de canários. De repente um impulso toma conta de seu corpo. É hora de voar novamente. E naquela bater de asas, simples, volta a flutuar pelo azul. Agora em busca de uma refeição. O calor é insuportável. E, antes de comer, vai até um lago em meio ao cinza. As asas batem, agora, não com intuito de voar, mas de refrescar o corpo. A alegria é tanta... Que começa a cantar. Porém, antes de terminar sua ópera, sente uma ameaça e voa rapidamente. Fugindo daquela imagem com cinco dedos que, agora, empurra água por todo o lado. Livremente continua com o bater de asas, simples e encantador. Movimento que, na sua simplicidade, reveste-se da mais complicada explicação, como o amor. Tendo apenas que caçar sua comida, não em uma selva de pedra com complicadas moedas, mas em campos belos e floridos, continua a sua viagem. “Uma presa!”, percebem seus olhos. Ao se aproximar, porém, ouve um barulho e a escuridão toma conta. Bate as asas, mas não consegue voar. Um feixe de luz aparece e com ela cindo dedos o agarram. Berra sem parar... Ninguém escuta. Os dedos o soltam e tenta voar, novamente sem sucesso. Ao seu lado, um “negócio” com água e outro com um grão estranho. A fome aperta, tenta comer. Porém o gosto é ruim. Tenta beber, mas não se acostuma com o “negócio”. Olha, em meio aos ferros, com nostalgia o imenso azul pelo qual movia suas asas. Agora não consegue nem, ao menos, levantar vôo. Apenas fica parado dentro de sua cela. E a solidão, como sua irmã fazia, o abraça. O canto, agora, é de tristeza. Notas pesadas e melancólicas fazem parte de seu repertório. Todos os dias, no mesmo horário, os dedos voltam. Mudando o conteúdo das vasilhas. Sem direito de voar, sem direito de banhar-se, sem direito de descansar no fio preto... Sem nada. Pergunta a si: “Que mal eu fiz?”. Sem resposta, vive sua rotina sempre a observar o imenso azul que, antes, podia explorar sem regras e horários. Seu olhar e cantorias tristes, depois de um tempo notara, se assemelham às daqueles dedos. “Será que eles, também, estão presos?”.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A oposição que destrói

Existia um reino, próximo ao mar, onde o rei Patrick Tiago acabava de subir ao trono, após um período de turbulência, ocorrido devido à morte do seu pai. Por não poder vestir a coroa, devido a sua idade, o poder foi assumido interinamente por Marcos. Um período negro na história do reino. Os roubos eram freqüentes já que, através de Marcos, toda a sua perversa família dominava. Na coroação de Patrick o povo lotou o castelo. Todos eram favoráveis ao seu comando. Porém os irmãos Peter, Marcos, Diego e Bruno, que antes estavam no poder, confabulavam para retomar o castelo. O primeiro passo foi recorrer aos juízes do reino alegando que Patrick não poderia assumir o trono. Depois começaram a difamar a imagem do rei. Todos os passos que o soberano tentava dar, em prol da população, eram freados pelos irmãos que buscavam favorecer sua família. “Rei posto é rei deposto”, diziam os irmãos. Pouco importava, para eles, a vontade de todos os moradores do condado, que não se intimidavam em manifestar seu amor pelo novo rei.  Eles queriam o poder a todo custo, para, assim, poderem fazer suas “falcatruas”. A situação estava ficando insuportável. O reino não conseguia se desenvolver devido à “oposição” suja dos irmãos que queriam retirar Patrick a todo custo do trono. Até que um juiz, em um ato de cólera, deu ganho de causa a Peter, Marcos, Diego e Bruno. Logo que souberam da decisão, os quatro correram para o castelo e queriam depor Patrick, sedentos pelo poder. Porém o rei já os esperava com seu exército e não entregou o trono. Assim começara a guerra, que por anos perdurou no condado. Esquecido, o povo passava fome e já não tinha mais a quem recorrer. A guerra continuava no castelo e na corte judiciária. Os mortos eram colocados em pilhas, mas nenhum dos soberanos queria saber. “Filho para com isso, vá lá e busque trazer esses irmãos para o nosso lado. Precisamos de união para construir um reino justo”, dizia a mãe de Patrick. “Mãe, eles querem a todo o custo o meu trono, como farei?”, respondia. E assim a situação ficava insolúvel. Até que, após anos de guerra, a corte judiciária decidiu a favor de Patrick. O que não demoveu os irmãos da ideia de tomar o poder. “Parem com essa loucura, vocês não percebem que estão enfraquecendo o nosso reino? Juntem-se ao rei e vamos fazer um reinado de união e crescimento. Nossos inimigos podem aproveitar para nos dominar”, disse um dos soldados aos irmãos. Como resposta eles cortaram a garganta do pobre coitado e disseram: “Quem não está conosco está contra nós e morrerá”. Porém a profecia daquele soldado era verdadeira. Logo o reino de Afar, inimigo eterno do condado, começou o ataque. Em menos de dois meses o rei Patrick já estava derrotado em uma masmorra ao lado dos irmãos. “Dividir para conquistar”, disse o rei de Afar, João. Enquanto na cela, a espera da morte, em um abraço eles selaram a paz. “Como fomos tão estúpidos? Ao invés de nos unirmos e lutarmos pelo nosso povo. Entramos em uma guerra pelo poder, como se nós mandássemos nesse condado. Agora o perdemos para sempre. Esquecemos que o povo e as suas vontades deveriam o ser nosso governante. É, a união faz a força e que isso sirva de lição para todos nós”, disse Patrick. Essas foram suas ultimas palavras. Todos foram mortos.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Nossos Anjos

Sou daqueles que acredita em anjos. Não daqueles com asas e assexuados, mas, sim, dos imperfeitos com barba mal feita ou maquiagem borrada. Anjos que Deus colocou em nossas vidas para guardar e cuidar. Proteger-nos, muitas vezes, de nós mesmos. Anjos que não tem nada de divino. São de carne e osso, com qualidades e defeitos que por algum motivo entraram em nossas vidas e estão sempre ao nosso lado. Motivos, estes, inexplicáveis. Já que podemos conhecer anjos em qualquer lugar, sem aviso prévio. É como se Ele coloca-se essas pessoas em nossas histórias no momento certo. “Agora João conhecerá Maria. Os dois se tornarão bons amigos. Serão os anjos um do outro. João casará com Márcia. Maria com José...”. Sim! Parece estar escrito. Como podemos explicar, por exemplo, a força invisível que une os amigos? Simplesmente acontece. Por isso é uma tremenda hipocrisia a afirmação de que “hoje não se pode confiar em mais ninguém”. Nós temos que confiar, sim, em alguém. Temos que ter amigos/anjos ao nosso lado. Somos seres políticos e precisamos nos expressar. Porém isso já é tema para outro texto. Voltemos aos anjos de nossas vidas. Alguns passam apenas em determinadas cenas de nossa peça. Eles entram falam as suas falas nos transformam e se vão. Outros ficam um ato inteiro e, depois de muito aprendermos com eles, saem do espetáculo. Nunca sabemos quando poderão retornar. Porém, geralmente, quando voltam aquele sentimento ainda está presente. Como disseram em algum lugar e irei parafrasear: Amigo verdadeiro é aquele que quando encontramos, depois de anos sem nos vermos, é como se o tivéssemos visto “ontem”. Temos, também, aqueles amigos/anjos, que geralmente são nossa família, que ficam do começo ao fim de nossa história, ou entram no meio e ficam até o final. Estes são os mais importantes. Aqueles que acompanham nossa alegria e nossa tristeza. Aqueles com quem brigamos e nos reconciliamos, que possuem a concessão de poder criticar ou elogiar nossas atitudes. Como insistimos em não ouvir esses anjos... O problema é que, na maioria das vezes, estão certos. E aí, depois de tudo, vem aquela frase: “Eu te avisei”. Até que chegue nossa vez de criticar e tentar ajudar nossos amigos. E eles, também, não nos escutam. E depois de perceberem que estávamos certos é a nossa vez de dizer a frase. Porém o mais importante é que sorrimos e choramos abraçados com nossos anjos. Choramos os amores que se passaram, a demissão na empresa, a nota baixa na prova... Sorrimos com as novas paixões, com o novo emprego, com a ida para o próximo semestre da faculdade... E, em todos os casos, terminamos no bar da vida bebendo, sempre, mais uma dose de experiência. Aprendendo com nossos Anjos/Amigos na alegria e na tristeza... Na saúde e na doença. Afinal como diz a canção do Expresso Rural: “Amigo é um cobertor, bordado de estrelas!”.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Um lar

Uma casa simples de um cômodo com um pequeno banheiro e um armário separando a cozinha do quarto, que possui duas camas, não tem espaço para guardar a felicidade. Nela vivem Joana e seus quatro filhos, localizada na parte de trás da casa de sua mãe. Muitos são os problemas da casa... Portas quebradas, infiltrações, entre outros. Joana vive no espaço desde a morte de seu marido. Porém a satisfação se vê no rosto dos moradores. Felizes continuam a “tocar” a vida. E como se não bastasse dos quatro filhos, três possuem autismo. Para reformar a casa uma corrente, em busca de recursos, está sendo feita pelos moradores da localidade. Em cada nova fala sobre como é difícil a rotina está presente o sorriso e um tom amoroso.

- Tenho que levá-los a escola, se deixarmos eles sozinhos quebram tudo. – conta a avó das crianças, com amor.

Uma casa de dois andares duas salas, cozinha, quatro banheiros, quatro quartos, três suítes possui muito espaço para guardar a infelicidade. Nela vivem uma mãe um pai e quatro filhos. Porém as discussões e brigas são freqüentes e as lágrimas brotam fácil das faces em desespero. Os berros, às vezes, se escutam de longe. Uma mãe aniquilada, presa em um relacionamento que não possui voz nem vez. Filhos sendo controlados a todo o momento. Brigas e discussões. A infelicidade e o conformismo são tons presentes nas falas dos que vivem na “mansão”. Conversas onde o “EU” é mais presente do que outro qualquer assunto. Enquanto o pai só pensam em dinheiro, como ganhar mais e como gastá-lo, também.

- Nossa eles devem ser muito infelizes. Sempre escutamos as brigas e discussões. Deve ser um inferno. – comenta um dos vizinhos.

É hora do almoço, Joana prepara um de seus filhos, que chegou da escola, para ir para a APAE. Quando o ônibus chega, ele vai e o outro desce. Corre para dar banho e lhe dar o almoço para ele ir para a escola. Ela não tem condições de trabalhar. Já que tem que cuidar dos filhos. Marcar médicos, dar os medicamentos e ficar de olho. Sempre de olho. Dois vivem fugindo da casa e é preciso correr atrás, já que eles vivem em seu mundo sem se importar com o nosso. A avó, também, entra na roda. Não é aposentada e não pode trabalhar, também, porque Joana possui um problema leve na cabeça.

- Ela tem vergonha, mas ela também toma medicamento. Teve uma convulsão com 12 anos, se tratou, mas não adiantou. Então me sinto responsável por eles todos. – contou a avó, com um sorriso no rosto.

Pratos “chiques” e copos à mesa. O pai chega para almoçar, vê a mesa e já começa a reclamar. Os filhos chegam e vêem a cena. Comem em meio às discussões e reclamações. A mãe não trabalha, para cuidar dos filhos. Porém a verdade é que ela até queria trabalhar, ter sua independência. Porém o pai, por ciúmes ou machismo, não aceitou. Após comer, as crianças são arrumadas para ir à escola. E o pai continua a reclamar tudo tem que ser do seu jeito. A mãe nada pode fazer, apenas vive a solidão do conformismo.

- Como diria o ditado: “Dinheiro compra casa, mas não compra um lar”. – comenta o vizinho.

sexta-feira, 15 de março de 2013

O amor onde está?

“Onde está o amor?”, questionou-me uma amiga. Fiquei muitos segundos em silêncio e, confesso, não consegui responder. É difícil saber onde podemos encontrá-lo. Eu o encontrei em um par de olhos castanhos, em uma voz doce e “braba”. Porém minha amiga, contava como acabara seu décimo encontro. Ela estava realmente apaixonada, mas seu “ex” nem tanto. Quando ela o questionou sobre o futuro da relação, ela acabou. Realmente parece que, atualmente, as pessoas têm medo de relacionamentos. Alguns encontram o verdadeiro amor, outros namoram por conveniência e muitos – mais do que eu imaginava – “pensam” viver em um sonho pulando de cama em cama, sem sentir o que é o amor. Homens e mulheres que despejam o seu vazio em copos cheios de cerveja, whyski ou algo mais forte. É engraçado saber o quanto essas pessoas realmente acreditam que podem viver sem amar alguém. Ou então, descontam suas frustrações em uma imagem de solteiros “felizes”. A verdade é que, apesar dos amigos, existe muita solidão em uma vida a sós. Principalmente no apagar das luzes, quando está apenas você. Ou, então, quando se olha no espelho, após mais uma farra, e no reflexo aparece apenas um ser. Solitário. Eu simplesmente nunca entendi porque muitos homens contam, como se fossem troféus, o número de mulheres que “já pegaram”. Confesso que, nunca entendi, também, porque muitas mulheres vivem correndo atrás do “gatinho” da faculdade, ou do Ensino Médio. Como se ganhassem um troféu, para cada “gato”, que ficassem. O fato é que esses homens, contam as mulheres para se “mostrarem” para seus amigos. E as mulheres, correm atrás “daquele gatinho” para contarem vantagem de suas amigas. Porém no fundo, o que todos procuram é apenas um coração para amar. Um corpo para abraçar. Uma alma para compartilhar a vida. Até hoje, só não consigo entender como algumas mulheres ou homens insistem em “correr” atrás daqueles que os machucaram. Um “amor” fora de controle. Não entendo como mulheres aceitam viver em infernos. E, alguns homens, também. O amor deveria ser fonte de liberdade e não de possessão. Mas não mudemos o assunto. Solteirões inveterados ou solteironas insistem em passar uma imagem de  que são “livres”, dentro de sua cela, e “felizes, dentro da sua solidão. No fundo todos querem viver um grande amor. E se não percebem isso agora, um dia entenderão.  Espero que não seja tarde de mais. Espero que os amores da vida, não tenham passado, ainda. “Onde está o amor?”. Dentro de cada coração, esperando ser liberto e colorir o “filme” preto e branco de nossas vidas.

sexta-feira, 8 de março de 2013

A caminho do céu

Dizem que existia um cara - o nome dele era Marcelo – que acreditava em tudo que lhe falavam, bastava apenas dizer: “Se você fizer .... , irá para o céu”. Como tinha medo de ir para o inferno, o Marcelo. Porém muitos o mandavam para lá, já que “era um cara muito egoísta”, diziam os seus colegas. Era daqueles que não vê pessoas caminhando na rua, mas sim cifras de dinheiro. Só se aproximava de pessoas ricas e não ajudava ninguém. Trabalhava em um escritório e seus colegas já não contavam mais com ele para nada, nem tampouco o convidavam para ir “tomar umas” depois do serviço. Como era chato o Marcelo. Quando alguém realmente precisava de algo, apelava: “Troca comigo esse dia, se não você não irá pro céu”. E tudo era resolvido. Todos os meses, Marcelo trocava de religião. Já que os missionários batiam em sua porta, mostravam a sua visão de Deus e no final sempre vinha a frase: “Na hora da morte só nós iremos para o Céu”. Pronto, mais um adepto ganho. Quer dizer, até outro missionário de outra igreja usar o mesmo artifício. Não tinha igreja que ele não havia freqüentado. Dizem que Marcelo ligava apenas para as aparências e era por isso, que freqüentava as igrejas. “Causa boa impressão”, falava. Porém não se importava de trocar de santuários, o importante era ir para o céu. Aliás, quando ele morreu, após ser baleado em um assalto, dizem que chegou ao portão do céu e pegou a fila. A sua frente diversos tipos de almas: Ateus, Hindus, Budistas, mães e pais de santo, entre outros. Esperavam sua vez. O espanto veio quando um Pai de Santo foi aceito no céu. “É coisa do demonho isso! Como entrou no céu? Os pastores e padres sempre diziam que isso era coisa de Lúcifer! Como assim?”. E  a fila foi passando, uns para o inferno, outros para o céu. Um padre estava a sua frente e começaram a conversar sobre os seguidores de Ubanda que haviam entrado na casa do Senhor. Então o grande porteiro chamou o “funcionário de Deus”. Após uma breve biografia da vida a sentença: “Inferno!”. Marcelo perdeu-se completamente. “Como um “macumbeiro” ia para o céu e um padre para o inferno?”. Chegou a sua vez. O grande homem de barbas brancas até o pé chamou-o. Marcelo se aproximou e ele começou a falar:

- Marcelo Moreira Paes, morreu com 24 anos. Sua sentença: Inferno!

- Mas senhor porque inferno? Por toda a minha vida eu procurei o Senhor. Sempre quis ir para o céu. Fui discípulo de várias religiões que me prometeram que na morte eu iria para o céu, que iria ser lembrando no apocalipse. Porque eu vou para o inferno, se um “macumbeiro”foi para o céu?

- Marcelo, aqui, na terra do senhor Jesus, pouco importa a que time tu pertences. Pouco importa a camisa que tu vestes. O importante são as atitudes de amor. Jesus ficou lembrado pelo amor e continua a existir em cada um que tem fé nele. E para entrar aqui todos tem que reconhecer essa fé. Não interessa se em vida foram de outras religiões ou ateus. Se viveram uma vida de amor - cuidando dos outros e amando ao próximo como a si - porque não poderiam entrar? Claro que participar de uma igreja é bom, mas muito vão aos encontros apenas por status. Logo não queremos aqueles que, apenas, pronunciem a palavra de Deus. Nós queremos aqueles que vivem a palavra de Cristo. Mesmo que não saibam disso.

Abriu-se uma grande porta vermelha ao lado de Marcelo. E toda a sua vida passou, como um filme em sua alma. Todas as oportunidades e ajudas que negara. O enterro de sua mãe, o qual não esteve presente, pois estava “trabalhando”, quando na verdade estava vendo os papeis da herança. E percebeu o quanto estivera enganado. “Pouco importa a aparência, o que importa aqui é a essência”. E assim dizem que terminou a história daquele que perseguia os céus.

sexta-feira, 1 de março de 2013

A busca de um sonho

O menino de olhos castanhos para por um segundo, olha para o horizonte e vê seu futuro. Por um instante sua mente voa longe, fora da sua realidade de fome e desespero. A esperança volta a figurar em seu coração. De repente outros meninos começam a chamá-lo, despertando-o de seu sonho encantado. Com a mente nas nuvens e os pés na terra, ele coloca novamente a bola em campo. E o jogo da vida recomeça. Todos em busca de um sonho, ou melhor, do gol. Os olhos castanhos correm e acompanham cada movimento da bola. Sempre procurando alcançá-la, como os pequenos objetivos almejados em sua vida: trabalho, família, dinheiro e sucesso. Em cada passo a esperança se renova. “Passa, passa... Estou livre!”, grita nosso menino. Porém ninguém o escuta. Na frente da trave, berra cada vez mais forte. Esperando que os ventos do destino levem aquela, que ele sabe, será sua única chance de marcar o tão almejado gol. O time adversário rouba a bola. Nosso pequeno não esconde sua frustração, mas não para. Olha para a “gorducha” e corre em sua direção. Porém o jogador que a está portando é habilidoso e ninguém consegue roubá-la dele. Até que ele olha o goleiro e chuta certeiro no canto oposto. “Gollll!”, gritam seus colegas. “Como eu queria marcar apenas um gol em minha vida”, pensa o pequeno de olhos castanhos. Bola no centro e novamente a batalha por uma vida recomeça. Naquele campo de barro, nosso menino imagina um maracanã. “Um dia serei jogador”, pensa consigo. Lembra de sua família, sem dinheiro. Ele, novo, tendo que trabalhar. “Você joga muito bem, pode até ser jogador”, recordam aqueles olhos castanhos das falas de sua mãe. Seu pai? “Foi assassinado quando você tinha dois anos pelos traficantes”, falou sua mãe, quando ele a questionou. Nunca esquecerá a cena. De repente vê a bola da esperança correr em sua direção. “É agora”, pensou ao dominar a “gorducha”. Não esperava que apareceria, em sua frente, uma pedra. Um tropeção e pronto lá se foi sua chance de mostrar o seu talento. Porém o menino não se acanha. Levanta e continua sua batalha em busca de uma oportunidade. “Dizem que os meninos dos bairros são mais fortes que os da ‘cidade’”, diz um homem que observa a partida, para seu companheiro. E o gol, para nosso amigo, continua a ser perseguido, como o sonho de ser jogador. Talvez quando ele alcançar esse sonho, novos se figurem no querer do pequeno. Já que somos como os personagens dos desenhos animados, com varas nas costas e a isca à nossa frente, em uma perseguição inútil e sem fim por nossos objetivos. Ele não desanima e continua a correr sem parar. Pedindo para que a vida lhe de uma oportunidade, ou melhor, para que o destino passe a bola. Falando nela, novamente a “gorducha” está em seus pés. E lá vem o primeiro marcador. Um elástico e lá se vai nosso garoto, vencendo obstáculos. Até ficar de frente para o goleiro. Ele prepara, olha o canto e chuta firme. “Golll!”, gritam os outros meninos. Ele não comemora. Sabe que muitas batalhas ainda estão por vir no jogo da vida, até que o juiz apite o final.



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Amor e Paixão

- Amiga, estou cansada. Uma hora ele diz que me ama, na outra volta atrás. Não sei mais o que pensar. É um vai e vém, toda hora! – comentava uma mulher com sua amiga.

- Toma uma decisão logo. Se ele não se decide, joga na parede. Diz que se ele não quiser ter um relacionamento sério, que procure outra. – respondeu a amiga.

- Mas eu tenho medo que ele se afaste. Amo muito ele.

- Nossa, conheceste ele faz um mês. Que amor é esse?

Neste momento, as duas olharam em minha direção e perceberam meu interesse no assunto alheio. Porém nos seus olhares, não existia amizade. Então abaixei minha cabeça, envergonhado por tamanha indiscrição, perguntando-me: “Que amor é esse?”. É engraçado como este sentimento anda banalizado. Um mês, e pronto, algumas mulheres acreditam ter encontrado o amor de suas vidas. Será que isso é carência? Pode ser. Porém o que me atenho é como o amor e a paixão são confundidas no “mundo real”. Sou daqueles que não acredita em “amor a primeira vista”, mas sim em paixão. Não se pode amar outro ser, apenas em um olhar. Porém alguma fagulha pode ser acesa. A paixão tem sintomas parecidos com o amor, porém com uma intensidade muito maior. O coração começa a arder, como um vulcão em erupção. A pessoa, objeto do desejo, não sai do pensamento e o frio na barriga aparece todas as vezes que, por algum motivo, esbarramos com tal pessoa. E quando isso acontece, a pele começa a sentir cada toque daquelas mãos, cada gesto passa a ter outro sentido. E sempre paira a duvida: “Será que ela (e) está afim?”. Quando a pergunta é respondida, e vem o primeiro encontro tudo começa a mudar. O encanto aumenta ou morre. E a cada novo jantar, se deu certo, a paixão vai aumentando. Até que, depois de alguns meses, vêm a grande decisão, o grande passo, ou melhor, a grande pergunta: “Quer namorar comigo?”. E assim o sentimento tende a crescer cada vez mais. E o amor? Bom o amor pode demorar a acontecer. Existem paixões que duram anos. O primeiro sintoma do amor, geralmente, aparece quando damos de cara com os defeitos do outro. Quando tiramos a maquiagem e olhamos a face limpa. E, assim, começa a tarefa difícil. Ainda existe aquela chama que arde, mas a intensidade é menor. O frio na barriga agora tem outros motivos. E sim! É uma tarefa difícil. Amar é aprender a conviver com as qualidades e defeitos do outro. É discutir e se reconciliar. É estar sempre dando forças e ajudando um ao outro. É querer estar sempre de mãos dadas. Compartilhar uma existência. Amar é ser amante e amigo. Conviver com as loucuras de um do outro e compreender que todos erramos e acertamos. E que perfeição só existe no dicionário. Por isso o perdão é a mãe do amor. Sem perdão, nenhum sentimento pode florescer. Então temos que tomar cuidado, ao sair por ai dizendo: “Eu te amo”, ou então acreditando que aquela pessoa, que conhecemos a pouco é o nosso amor. Já que a vida é muito mais rica que um conto de fadas.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

No alto daquele morro

No alto daquele morro, perdido entre as praias de torres, a paz veio me visitar. Olhou em meus olhos e abraçou o meu coração. No alto daquele morro, juntinho ao meu amor, a paz conversou comigo enquanto fitávamos o infinito oceano azul. Era como se eu fosse imortal. No alto daquele morro, não existiam preocupações. Ninguém era preto, amarelo ou branco. Ninguém era rico, pobre ou classe média. Nada era medido. Não existiam perdedores, nem tampouco vencedores. Estava eu longe de guerras psicológicas. Sem precisar provar nada para ninguém. Sem ter que lutar para sobreviver. Era apenas eu, meu amor e a paz dentro de mim. Meus atos, minha imagem e meu ser não eram julgados a cada instante, a cada passo. Não havia regras de etiqueta, nem apelos morais ou legais. Não existiam posições sociais. Nem tampouco, existiam horas para se cumprir. Horários para ir e vir. Cobranças pelo feito e não feito. Era apenas eu, meu amor, a paz e o oceano.

Cada vez que fitava aquele azul, percebia o quão pequeno sou. Diante daquela imensidão me via como uma gota, perdida entre sete bilhões. Lutando para ocupar meu espaço naquele infinito. E embora as ondas insistissem e me levar de volta para o começo, não desistia e continuava. Vencendo, devagar, cada barreira. Renovando-me em cada novo ciclo, ficando cada vez mais forte. Até o sol bater e eu evaporar e voltar ao oceano de outra forma. Quantas gotas, naquele oceano, desistiam na primeira onda? Quantos deixavam com que o desanimo fosse seu melhor amigo? No alto daquele morro a paz invadiu meu ser. E ali abraçado ao meu amor, meus sofrimentos começaram a bailar pelo meu corpo. Mostrando tudo o que me ensinaram. Refleti sobre cada passo errado. Comemorei cada acerto. No alto daquele morro, entre as praias de torres, a paz, vestida de branco, invadiu meu ser. E por eternos instantes, encontrei-me com meu intimo. E ali, quando beijei meu amor, descobri que a coisa mais importante da vida é a própria vida.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Não!

-    Filho coloca esse boné para bater foto. – Dizia a mãe do menino.

-    Não!!!! – Gritava a criança, de uns dois anos, e jogava o boné no chão.

A mãe olhava para o menino a brincar na areia e sentia certa frustração.

- Coloca o boné para a gente bater uma foto bem bonita. – Falou em um tom meigo, enquanto colocava o boné na criança.

- Não! – respondeu e novamente jogou longe aquele boné.

E assim a cena se repetiu por diversas vezes, enquanto tentava eu fotografar o menino brincando no parque. Cada vez que ele rejeitava com tamanha certeza aquele boné, eu percebia a simplicidade perdida no mundo dos adultos. Lembrando dos diversos “sapos” que tive que engolir. Das diversas vezes que me escondi por de trás de minha máscara de pano. “Não”. Uma palavra bastante repetida em nosso vocabulário e tão mal usada. Quantas vezes eu deveria tê-la proferido e por conveniência ou medo não a utilizei? Cada vez que aquela criança rejeitava o boné com tamanha facilidade, por simplesmente não querer usá-lo, mesmo que a mãe insistisse, perguntava-me por que eu não podia rejeitar aquilo que não queria? Seja no trabalho ou na “vida pessoal”. Porque eu perdera essa simplicidade? Talvez o medo seja o grande vilão nessa história. Já que é por medo que aceitamos aquele pedido especial no trabalho que irá colocar por água a baixo o fim de semana planejado com a família. Já que é por medo que começamos a mentir até ficarmos a deriva em um oceano de inverdades. “Não”. Palavra que divide opiniões. Até na hora de criar os filhos. Enquanto alguns entendidos acreditam que a repetição desta palavra na infância tem conseqüências ruins no futuro, outros dizem que ela deve ser usada para impor limites e ensinar.  A cena continua a se repetir em minha frente. E pela ultima vez a mãe fala:

- Usa o boné meu filho, o sol vai queimar teu rosto. – E o coloca devagar na cabeça do menino, que por alguns minutos aceita. Porém quando o sol baixa:

- Não tem mais sol, mamãe. – Diz a criança e joga novamente o boné no chão.

A foto está garantida. Mas os questionamentos continuam em minha mente. E no meio desse deserto de indagações uma palavra surge como um oásis: sabedoria. Sempre podemos dizer “não”, mas nem sempre é sábio fazê-lo.  Temos que aceitar alguns pedidos especiais no trabalho, mas não todos. Temos que contar algumas mentirinhas, mas nunca quando o assunto for sério. Logo a questão é saber equilibrar o “Não” e o “Sim”, buscando sempre a melhor solução para todos os envolvidos na nossa decisão.