Em certa manhã me desloquei à barbearia, a qual vou desde minha infância. O barbeiro, sempre com seu bom humor, começou a conversa. Primeiro sobre a vida, depois sobre como cultivar bananas e por ultimo sobre o tempo. Não sobre o clima, mas, sim, sobre aquele tempo subjetivo. As brincadeiras que passaram. A evolução de cada geração. Olhei-me, então, no espelho e me veio à memória que, naquele mesmo espelho, minha imagem é refletida há 10 anos. Em cada novo corte da tesoura uma lembrança aflorava. Aquela imagem possuía um cabelo liso loiro e cheio. No rosto, traços finos e infantis, além de um olhar de descoberta. Os cabelos eram tantos que enchiam o chão e a roupa. Além de muito loiros. Essa imagem é a que eu arrastava pelos campos de futebol. Lembro do nosso “campinho”, em frente à Casa de Saúde. Aquele gramado verde e nós – a turma da rua – jogando sem parar independente do clima. Depois do futebol, vinha a hora de andar de bicicleta ou jogar bolinha de gude. E a noite era regada a esconde-esconde ou pé na bola. Todo dia era uma ventura diferente. Quando chegávamos em casa, ligávamos o vídeo game. Os estudos? Bom... Sempre existia um tempinho para eles, também. Era fazer as tarefas e se jogar em uma nova aventura. Ao lado de casa, tinha uma selva com um paredão grande de rocha, onde funcionara uma fábrica de extração de areia. Escalávamos o paredão e nos divertíamos na floresta. Tínhamos até construído uma cabana. E, ali, inventávamos guerras entre Americanos e Russos, Brasileiros e Japoneses.... E assim, com nossas armas de balão, guerreávamos. Ou, então, íamos até a casa de um amigo e éramos ladrões e policiais. Em uma batalha fictícia. O barbeiro me faz uma pergunta e volto para a cadeira vendo-me no espelho com um sorriso bobo. Agora, porém, os cabelos já são poucos e encaracolados. O loiro já não é tão amarelo. Meu rosto tem traços fortes e poucas “madeixas”caem ao chão. “O tempo passa e rápido demais”, falo para o barbeiro. Após ele terminar o corte, saio em direção a minha casa. Não de bicicleta, nem tampouco a pé, mas com um cavalo de metal. Passo pelas ruas de minha infância e criança nenhuma vejo. O campo jaz vazio, como a rua. “Onde estão os jogadores?”, pergunto-me. Eles devem estar jogando futebol virtual, bolinha de gude virtual... Vivendo uma vida virtual. Os vizinhos do campo que agradecem por não terem mais suas casas invadidas por nossas bolas, nem seus telhados quebrados. A guerra agora é com os ladrões, tentando não deixar brechas na segurança. É o tempo passa e cada geração tem seu jeito de encarar a infância. Que saudade!É apenas o que posso dizer. Saudade do tempo em que ficávamos mais no real e menos no virtual. Chego em casa. E percebo que apenas dois, daqueles meus 10, 11 amigos, ainda vivem na vizinhança e mesmo assim pouco nos falamos. Porém na memória de cada um sei que está cada aventura, cada país que conquistado, cada campeonato ganho... Porque o tempo pode passar, mas as coisas boas ficam.
sexta-feira, 19 de abril de 2013
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