As asas, mecanicamente projetadas, batem em um ritmo acelerado. O movimento leve e rápido faz com que flutue sobre o fundo azul. Nada o aflige. Em cada novo movimento apenas a preocupação de continuar voando. De repente, em sua frente, um fio preto - que não sabe o que é, “mas é bom pra descansar” - aparece. Pousa, então, para se deleitar com a imagem de um ser com seus óculos a observá-lo. Mexe a cabeça rapidamente, de um lado para o outro. Receoso pela imagem que o assola. Ao seu lado outros começam a se alojar. E esta feita a corrente de canários. De repente um impulso toma conta de seu corpo. É hora de voar novamente. E naquela bater de asas, simples, volta a flutuar pelo azul. Agora em busca de uma refeição. O calor é insuportável. E, antes de comer, vai até um lago em meio ao cinza. As asas batem, agora, não com intuito de voar, mas de refrescar o corpo. A alegria é tanta... Que começa a cantar. Porém, antes de terminar sua ópera, sente uma ameaça e voa rapidamente. Fugindo daquela imagem com cinco dedos que, agora, empurra água por todo o lado. Livremente continua com o bater de asas, simples e encantador. Movimento que, na sua simplicidade, reveste-se da mais complicada explicação, como o amor. Tendo apenas que caçar sua comida, não em uma selva de pedra com complicadas moedas, mas em campos belos e floridos, continua a sua viagem. “Uma presa!”, percebem seus olhos. Ao se aproximar, porém, ouve um barulho e a escuridão toma conta. Bate as asas, mas não consegue voar. Um feixe de luz aparece e com ela cindo dedos o agarram. Berra sem parar... Ninguém escuta. Os dedos o soltam e tenta voar, novamente sem sucesso. Ao seu lado, um “negócio” com água e outro com um grão estranho. A fome aperta, tenta comer. Porém o gosto é ruim. Tenta beber, mas não se acostuma com o “negócio”. Olha, em meio aos ferros, com nostalgia o imenso azul pelo qual movia suas asas. Agora não consegue nem, ao menos, levantar vôo. Apenas fica parado dentro de sua cela. E a solidão, como sua irmã fazia, o abraça. O canto, agora, é de tristeza. Notas pesadas e melancólicas fazem parte de seu repertório. Todos os dias, no mesmo horário, os dedos voltam. Mudando o conteúdo das vasilhas. Sem direito de voar, sem direito de banhar-se, sem direito de descansar no fio preto... Sem nada. Pergunta a si: “Que mal eu fiz?”. Sem resposta, vive sua rotina sempre a observar o imenso azul que, antes, podia explorar sem regras e horários. Seu olhar e cantorias tristes, depois de um tempo notara, se assemelham às daqueles dedos. “Será que eles, também, estão presos?”.
sexta-feira, 12 de abril de 2013
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