O menino de olhos castanhos para por um segundo, olha para o horizonte e vê seu futuro. Por um instante sua mente voa longe, fora da sua realidade de fome e desespero. A esperança volta a figurar em seu coração. De repente outros meninos começam a chamá-lo, despertando-o de seu sonho encantado. Com a mente nas nuvens e os pés na terra, ele coloca novamente a bola em campo. E o jogo da vida recomeça. Todos em busca de um sonho, ou melhor, do gol. Os olhos castanhos correm e acompanham cada movimento da bola. Sempre procurando alcançá-la, como os pequenos objetivos almejados em sua vida: trabalho, família, dinheiro e sucesso. Em cada passo a esperança se renova. “Passa, passa... Estou livre!”, grita nosso menino. Porém ninguém o escuta. Na frente da trave, berra cada vez mais forte. Esperando que os ventos do destino levem aquela, que ele sabe, será sua única chance de marcar o tão almejado gol. O time adversário rouba a bola. Nosso pequeno não esconde sua frustração, mas não para. Olha para a “gorducha” e corre em sua direção. Porém o jogador que a está portando é habilidoso e ninguém consegue roubá-la dele. Até que ele olha o goleiro e chuta certeiro no canto oposto. “Gollll!”, gritam seus colegas. “Como eu queria marcar apenas um gol em minha vida”, pensa o pequeno de olhos castanhos. Bola no centro e novamente a batalha por uma vida recomeça. Naquele campo de barro, nosso menino imagina um maracanã. “Um dia serei jogador”, pensa consigo. Lembra de sua família, sem dinheiro. Ele, novo, tendo que trabalhar. “Você joga muito bem, pode até ser jogador”, recordam aqueles olhos castanhos das falas de sua mãe. Seu pai? “Foi assassinado quando você tinha dois anos pelos traficantes”, falou sua mãe, quando ele a questionou. Nunca esquecerá a cena. De repente vê a bola da esperança correr em sua direção. “É agora”, pensou ao dominar a “gorducha”. Não esperava que apareceria, em sua frente, uma pedra. Um tropeção e pronto lá se foi sua chance de mostrar o seu talento. Porém o menino não se acanha. Levanta e continua sua batalha em busca de uma oportunidade. “Dizem que os meninos dos bairros são mais fortes que os da ‘cidade’”, diz um homem que observa a partida, para seu companheiro. E o gol, para nosso amigo, continua a ser perseguido, como o sonho de ser jogador. Talvez quando ele alcançar esse sonho, novos se figurem no querer do pequeno. Já que somos como os personagens dos desenhos animados, com varas nas costas e a isca à nossa frente, em uma perseguição inútil e sem fim por nossos objetivos. Ele não desanima e continua a correr sem parar. Pedindo para que a vida lhe de uma oportunidade, ou melhor, para que o destino passe a bola. Falando nela, novamente a “gorducha” está em seus pés. E lá vem o primeiro marcador. Um elástico e lá se vai nosso garoto, vencendo obstáculos. Até ficar de frente para o goleiro. Ele prepara, olha o canto e chuta firme. “Golll!”, gritam os outros meninos. Ele não comemora. Sabe que muitas batalhas ainda estão por vir no jogo da vida, até que o juiz apite o final.

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