sexta-feira, 29 de março de 2013

Nossos Anjos

Sou daqueles que acredita em anjos. Não daqueles com asas e assexuados, mas, sim, dos imperfeitos com barba mal feita ou maquiagem borrada. Anjos que Deus colocou em nossas vidas para guardar e cuidar. Proteger-nos, muitas vezes, de nós mesmos. Anjos que não tem nada de divino. São de carne e osso, com qualidades e defeitos que por algum motivo entraram em nossas vidas e estão sempre ao nosso lado. Motivos, estes, inexplicáveis. Já que podemos conhecer anjos em qualquer lugar, sem aviso prévio. É como se Ele coloca-se essas pessoas em nossas histórias no momento certo. “Agora João conhecerá Maria. Os dois se tornarão bons amigos. Serão os anjos um do outro. João casará com Márcia. Maria com José...”. Sim! Parece estar escrito. Como podemos explicar, por exemplo, a força invisível que une os amigos? Simplesmente acontece. Por isso é uma tremenda hipocrisia a afirmação de que “hoje não se pode confiar em mais ninguém”. Nós temos que confiar, sim, em alguém. Temos que ter amigos/anjos ao nosso lado. Somos seres políticos e precisamos nos expressar. Porém isso já é tema para outro texto. Voltemos aos anjos de nossas vidas. Alguns passam apenas em determinadas cenas de nossa peça. Eles entram falam as suas falas nos transformam e se vão. Outros ficam um ato inteiro e, depois de muito aprendermos com eles, saem do espetáculo. Nunca sabemos quando poderão retornar. Porém, geralmente, quando voltam aquele sentimento ainda está presente. Como disseram em algum lugar e irei parafrasear: Amigo verdadeiro é aquele que quando encontramos, depois de anos sem nos vermos, é como se o tivéssemos visto “ontem”. Temos, também, aqueles amigos/anjos, que geralmente são nossa família, que ficam do começo ao fim de nossa história, ou entram no meio e ficam até o final. Estes são os mais importantes. Aqueles que acompanham nossa alegria e nossa tristeza. Aqueles com quem brigamos e nos reconciliamos, que possuem a concessão de poder criticar ou elogiar nossas atitudes. Como insistimos em não ouvir esses anjos... O problema é que, na maioria das vezes, estão certos. E aí, depois de tudo, vem aquela frase: “Eu te avisei”. Até que chegue nossa vez de criticar e tentar ajudar nossos amigos. E eles, também, não nos escutam. E depois de perceberem que estávamos certos é a nossa vez de dizer a frase. Porém o mais importante é que sorrimos e choramos abraçados com nossos anjos. Choramos os amores que se passaram, a demissão na empresa, a nota baixa na prova... Sorrimos com as novas paixões, com o novo emprego, com a ida para o próximo semestre da faculdade... E, em todos os casos, terminamos no bar da vida bebendo, sempre, mais uma dose de experiência. Aprendendo com nossos Anjos/Amigos na alegria e na tristeza... Na saúde e na doença. Afinal como diz a canção do Expresso Rural: “Amigo é um cobertor, bordado de estrelas!”.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Um lar

Uma casa simples de um cômodo com um pequeno banheiro e um armário separando a cozinha do quarto, que possui duas camas, não tem espaço para guardar a felicidade. Nela vivem Joana e seus quatro filhos, localizada na parte de trás da casa de sua mãe. Muitos são os problemas da casa... Portas quebradas, infiltrações, entre outros. Joana vive no espaço desde a morte de seu marido. Porém a satisfação se vê no rosto dos moradores. Felizes continuam a “tocar” a vida. E como se não bastasse dos quatro filhos, três possuem autismo. Para reformar a casa uma corrente, em busca de recursos, está sendo feita pelos moradores da localidade. Em cada nova fala sobre como é difícil a rotina está presente o sorriso e um tom amoroso.

- Tenho que levá-los a escola, se deixarmos eles sozinhos quebram tudo. – conta a avó das crianças, com amor.

Uma casa de dois andares duas salas, cozinha, quatro banheiros, quatro quartos, três suítes possui muito espaço para guardar a infelicidade. Nela vivem uma mãe um pai e quatro filhos. Porém as discussões e brigas são freqüentes e as lágrimas brotam fácil das faces em desespero. Os berros, às vezes, se escutam de longe. Uma mãe aniquilada, presa em um relacionamento que não possui voz nem vez. Filhos sendo controlados a todo o momento. Brigas e discussões. A infelicidade e o conformismo são tons presentes nas falas dos que vivem na “mansão”. Conversas onde o “EU” é mais presente do que outro qualquer assunto. Enquanto o pai só pensam em dinheiro, como ganhar mais e como gastá-lo, também.

- Nossa eles devem ser muito infelizes. Sempre escutamos as brigas e discussões. Deve ser um inferno. – comenta um dos vizinhos.

É hora do almoço, Joana prepara um de seus filhos, que chegou da escola, para ir para a APAE. Quando o ônibus chega, ele vai e o outro desce. Corre para dar banho e lhe dar o almoço para ele ir para a escola. Ela não tem condições de trabalhar. Já que tem que cuidar dos filhos. Marcar médicos, dar os medicamentos e ficar de olho. Sempre de olho. Dois vivem fugindo da casa e é preciso correr atrás, já que eles vivem em seu mundo sem se importar com o nosso. A avó, também, entra na roda. Não é aposentada e não pode trabalhar, também, porque Joana possui um problema leve na cabeça.

- Ela tem vergonha, mas ela também toma medicamento. Teve uma convulsão com 12 anos, se tratou, mas não adiantou. Então me sinto responsável por eles todos. – contou a avó, com um sorriso no rosto.

Pratos “chiques” e copos à mesa. O pai chega para almoçar, vê a mesa e já começa a reclamar. Os filhos chegam e vêem a cena. Comem em meio às discussões e reclamações. A mãe não trabalha, para cuidar dos filhos. Porém a verdade é que ela até queria trabalhar, ter sua independência. Porém o pai, por ciúmes ou machismo, não aceitou. Após comer, as crianças são arrumadas para ir à escola. E o pai continua a reclamar tudo tem que ser do seu jeito. A mãe nada pode fazer, apenas vive a solidão do conformismo.

- Como diria o ditado: “Dinheiro compra casa, mas não compra um lar”. – comenta o vizinho.

sexta-feira, 15 de março de 2013

O amor onde está?

“Onde está o amor?”, questionou-me uma amiga. Fiquei muitos segundos em silêncio e, confesso, não consegui responder. É difícil saber onde podemos encontrá-lo. Eu o encontrei em um par de olhos castanhos, em uma voz doce e “braba”. Porém minha amiga, contava como acabara seu décimo encontro. Ela estava realmente apaixonada, mas seu “ex” nem tanto. Quando ela o questionou sobre o futuro da relação, ela acabou. Realmente parece que, atualmente, as pessoas têm medo de relacionamentos. Alguns encontram o verdadeiro amor, outros namoram por conveniência e muitos – mais do que eu imaginava – “pensam” viver em um sonho pulando de cama em cama, sem sentir o que é o amor. Homens e mulheres que despejam o seu vazio em copos cheios de cerveja, whyski ou algo mais forte. É engraçado saber o quanto essas pessoas realmente acreditam que podem viver sem amar alguém. Ou então, descontam suas frustrações em uma imagem de solteiros “felizes”. A verdade é que, apesar dos amigos, existe muita solidão em uma vida a sós. Principalmente no apagar das luzes, quando está apenas você. Ou, então, quando se olha no espelho, após mais uma farra, e no reflexo aparece apenas um ser. Solitário. Eu simplesmente nunca entendi porque muitos homens contam, como se fossem troféus, o número de mulheres que “já pegaram”. Confesso que, nunca entendi, também, porque muitas mulheres vivem correndo atrás do “gatinho” da faculdade, ou do Ensino Médio. Como se ganhassem um troféu, para cada “gato”, que ficassem. O fato é que esses homens, contam as mulheres para se “mostrarem” para seus amigos. E as mulheres, correm atrás “daquele gatinho” para contarem vantagem de suas amigas. Porém no fundo, o que todos procuram é apenas um coração para amar. Um corpo para abraçar. Uma alma para compartilhar a vida. Até hoje, só não consigo entender como algumas mulheres ou homens insistem em “correr” atrás daqueles que os machucaram. Um “amor” fora de controle. Não entendo como mulheres aceitam viver em infernos. E, alguns homens, também. O amor deveria ser fonte de liberdade e não de possessão. Mas não mudemos o assunto. Solteirões inveterados ou solteironas insistem em passar uma imagem de  que são “livres”, dentro de sua cela, e “felizes, dentro da sua solidão. No fundo todos querem viver um grande amor. E se não percebem isso agora, um dia entenderão.  Espero que não seja tarde de mais. Espero que os amores da vida, não tenham passado, ainda. “Onde está o amor?”. Dentro de cada coração, esperando ser liberto e colorir o “filme” preto e branco de nossas vidas.

sexta-feira, 8 de março de 2013

A caminho do céu

Dizem que existia um cara - o nome dele era Marcelo – que acreditava em tudo que lhe falavam, bastava apenas dizer: “Se você fizer .... , irá para o céu”. Como tinha medo de ir para o inferno, o Marcelo. Porém muitos o mandavam para lá, já que “era um cara muito egoísta”, diziam os seus colegas. Era daqueles que não vê pessoas caminhando na rua, mas sim cifras de dinheiro. Só se aproximava de pessoas ricas e não ajudava ninguém. Trabalhava em um escritório e seus colegas já não contavam mais com ele para nada, nem tampouco o convidavam para ir “tomar umas” depois do serviço. Como era chato o Marcelo. Quando alguém realmente precisava de algo, apelava: “Troca comigo esse dia, se não você não irá pro céu”. E tudo era resolvido. Todos os meses, Marcelo trocava de religião. Já que os missionários batiam em sua porta, mostravam a sua visão de Deus e no final sempre vinha a frase: “Na hora da morte só nós iremos para o Céu”. Pronto, mais um adepto ganho. Quer dizer, até outro missionário de outra igreja usar o mesmo artifício. Não tinha igreja que ele não havia freqüentado. Dizem que Marcelo ligava apenas para as aparências e era por isso, que freqüentava as igrejas. “Causa boa impressão”, falava. Porém não se importava de trocar de santuários, o importante era ir para o céu. Aliás, quando ele morreu, após ser baleado em um assalto, dizem que chegou ao portão do céu e pegou a fila. A sua frente diversos tipos de almas: Ateus, Hindus, Budistas, mães e pais de santo, entre outros. Esperavam sua vez. O espanto veio quando um Pai de Santo foi aceito no céu. “É coisa do demonho isso! Como entrou no céu? Os pastores e padres sempre diziam que isso era coisa de Lúcifer! Como assim?”. E  a fila foi passando, uns para o inferno, outros para o céu. Um padre estava a sua frente e começaram a conversar sobre os seguidores de Ubanda que haviam entrado na casa do Senhor. Então o grande porteiro chamou o “funcionário de Deus”. Após uma breve biografia da vida a sentença: “Inferno!”. Marcelo perdeu-se completamente. “Como um “macumbeiro” ia para o céu e um padre para o inferno?”. Chegou a sua vez. O grande homem de barbas brancas até o pé chamou-o. Marcelo se aproximou e ele começou a falar:

- Marcelo Moreira Paes, morreu com 24 anos. Sua sentença: Inferno!

- Mas senhor porque inferno? Por toda a minha vida eu procurei o Senhor. Sempre quis ir para o céu. Fui discípulo de várias religiões que me prometeram que na morte eu iria para o céu, que iria ser lembrando no apocalipse. Porque eu vou para o inferno, se um “macumbeiro”foi para o céu?

- Marcelo, aqui, na terra do senhor Jesus, pouco importa a que time tu pertences. Pouco importa a camisa que tu vestes. O importante são as atitudes de amor. Jesus ficou lembrado pelo amor e continua a existir em cada um que tem fé nele. E para entrar aqui todos tem que reconhecer essa fé. Não interessa se em vida foram de outras religiões ou ateus. Se viveram uma vida de amor - cuidando dos outros e amando ao próximo como a si - porque não poderiam entrar? Claro que participar de uma igreja é bom, mas muito vão aos encontros apenas por status. Logo não queremos aqueles que, apenas, pronunciem a palavra de Deus. Nós queremos aqueles que vivem a palavra de Cristo. Mesmo que não saibam disso.

Abriu-se uma grande porta vermelha ao lado de Marcelo. E toda a sua vida passou, como um filme em sua alma. Todas as oportunidades e ajudas que negara. O enterro de sua mãe, o qual não esteve presente, pois estava “trabalhando”, quando na verdade estava vendo os papeis da herança. E percebeu o quanto estivera enganado. “Pouco importa a aparência, o que importa aqui é a essência”. E assim dizem que terminou a história daquele que perseguia os céus.

sexta-feira, 1 de março de 2013

A busca de um sonho

O menino de olhos castanhos para por um segundo, olha para o horizonte e vê seu futuro. Por um instante sua mente voa longe, fora da sua realidade de fome e desespero. A esperança volta a figurar em seu coração. De repente outros meninos começam a chamá-lo, despertando-o de seu sonho encantado. Com a mente nas nuvens e os pés na terra, ele coloca novamente a bola em campo. E o jogo da vida recomeça. Todos em busca de um sonho, ou melhor, do gol. Os olhos castanhos correm e acompanham cada movimento da bola. Sempre procurando alcançá-la, como os pequenos objetivos almejados em sua vida: trabalho, família, dinheiro e sucesso. Em cada passo a esperança se renova. “Passa, passa... Estou livre!”, grita nosso menino. Porém ninguém o escuta. Na frente da trave, berra cada vez mais forte. Esperando que os ventos do destino levem aquela, que ele sabe, será sua única chance de marcar o tão almejado gol. O time adversário rouba a bola. Nosso pequeno não esconde sua frustração, mas não para. Olha para a “gorducha” e corre em sua direção. Porém o jogador que a está portando é habilidoso e ninguém consegue roubá-la dele. Até que ele olha o goleiro e chuta certeiro no canto oposto. “Gollll!”, gritam seus colegas. “Como eu queria marcar apenas um gol em minha vida”, pensa o pequeno de olhos castanhos. Bola no centro e novamente a batalha por uma vida recomeça. Naquele campo de barro, nosso menino imagina um maracanã. “Um dia serei jogador”, pensa consigo. Lembra de sua família, sem dinheiro. Ele, novo, tendo que trabalhar. “Você joga muito bem, pode até ser jogador”, recordam aqueles olhos castanhos das falas de sua mãe. Seu pai? “Foi assassinado quando você tinha dois anos pelos traficantes”, falou sua mãe, quando ele a questionou. Nunca esquecerá a cena. De repente vê a bola da esperança correr em sua direção. “É agora”, pensou ao dominar a “gorducha”. Não esperava que apareceria, em sua frente, uma pedra. Um tropeção e pronto lá se foi sua chance de mostrar o seu talento. Porém o menino não se acanha. Levanta e continua sua batalha em busca de uma oportunidade. “Dizem que os meninos dos bairros são mais fortes que os da ‘cidade’”, diz um homem que observa a partida, para seu companheiro. E o gol, para nosso amigo, continua a ser perseguido, como o sonho de ser jogador. Talvez quando ele alcançar esse sonho, novos se figurem no querer do pequeno. Já que somos como os personagens dos desenhos animados, com varas nas costas e a isca à nossa frente, em uma perseguição inútil e sem fim por nossos objetivos. Ele não desanima e continua a correr sem parar. Pedindo para que a vida lhe de uma oportunidade, ou melhor, para que o destino passe a bola. Falando nela, novamente a “gorducha” está em seus pés. E lá vem o primeiro marcador. Um elástico e lá se vai nosso garoto, vencendo obstáculos. Até ficar de frente para o goleiro. Ele prepara, olha o canto e chuta firme. “Golll!”, gritam os outros meninos. Ele não comemora. Sabe que muitas batalhas ainda estão por vir no jogo da vida, até que o juiz apite o final.