sexta-feira, 26 de abril de 2013

Mudo

E de repente o cronista fica sem palavras. Não porque elas tenham fugido, mas sim pela amplitude dos assuntos que podem ser tratados em uma crônica. Escrever não é apenas a arte de pintar com as palavras, mas, também, é visão, olfato, tato e paladar. É uma forma de alguém levar aos outros suas ideais e pensamentos. Mostrar o que existe de errado. Porém, hoje, o cronista está mudo. Simplesmente sem vontade de falar. Mudo pela falta de escrúpulos da maioria dos políticos. Mudo diante do “jeitinho brasileiro” de conseguir as coisas. Mudo diante de pessoas que só pensam em dinheiro e com seus “esquemas” enriquecem em suas tristes casas. Mudo diante da forma como a população é tratada. Sendo apenas números para que se vença a próxima eleição. Mudo diante da falta de Segurança, Saúde e Educação. Eixos que claramente estão ruindo. Hospitais fechando. Escolas sem estrutura e professores humilhados. Ataques de bandidos, aterrorizando a população colocando fogo nos ônibus. Mudo diante da falta de avanço e de obras públicas que começam a ruir, antes mesmo de estarem completas. Quem sofre? Além do cronista mudo, toda uma classe que trabalha mais de oito horas por dia, para receber um salário mínimo (Bem Mínimo), tendo que sustentar uma família. E, além disso, sustentar uma cadeia de politiqueiros que só pensam na próxima eleição e em formas de se manter no poder e desviar o dinheiro da massa. O cronista está mudo, porque neste país de ninguém as coisas acontecem apenas no mundo das palavras. Já que na teoria e nas leis... Tudo é belo e bonito. O problema é a prática.  São tantas coisas erradas e o sentimento de indignação e raiva é tanto, que o melhor é se calar. Já que parece que quanto mais lutamos, maior o número de corruptos. É claro, que os poucos políticos que sabem o significado desta palavra, se perdem em um mar de CPIs, e desvios públicos. O cronista está mudo, diante da falta de respeito com mais 100 milhões de pessoas que acreditam nesta pátria falida. Afinal somos brasileiros e não desistimos nunca. Espero, apenas, que um dia os políticos corretos tomem conta deste país e deixem de ser a minoria. Porque eles não representam apenas a si mesmo, mas sim a toda população. Afinal, a raiz de todos os problemas vem da falta de escrúpulos dessa maioria corrupta que governa o país. O cronista está mudo, só por hoje, pois o silêncio, também, é uma forma de protestar.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Lembranças de uma infância

Em certa manhã me desloquei à barbearia, a qual vou desde minha infância. O barbeiro, sempre com seu bom humor, começou a conversa. Primeiro sobre a vida, depois sobre como cultivar bananas e por ultimo sobre o tempo. Não sobre o clima, mas, sim, sobre aquele tempo subjetivo. As brincadeiras que passaram. A evolução de cada geração. Olhei-me, então, no espelho e me veio à memória que, naquele mesmo espelho, minha imagem é refletida há 10 anos. Em cada novo corte da tesoura uma lembrança aflorava. Aquela imagem possuía um cabelo liso loiro e cheio. No rosto, traços finos e infantis, além de um olhar de descoberta. Os cabelos eram tantos que enchiam o chão e a roupa. Além de muito loiros. Essa imagem é a que eu arrastava pelos campos de futebol. Lembro do nosso “campinho”, em frente à Casa de Saúde. Aquele gramado verde e nós – a turma da rua – jogando sem parar independente do clima. Depois do futebol, vinha a hora de andar de bicicleta ou jogar bolinha de gude. E a noite era regada a esconde-esconde ou pé na bola. Todo dia era uma ventura diferente. Quando chegávamos em casa, ligávamos o vídeo game. Os estudos? Bom... Sempre existia um tempinho para eles, também. Era fazer as tarefas e se jogar em uma nova aventura. Ao lado de casa, tinha uma selva com um paredão grande de rocha, onde funcionara uma fábrica de extração de areia. Escalávamos o paredão e nos divertíamos na floresta. Tínhamos até construído uma cabana. E, ali, inventávamos guerras entre Americanos e Russos, Brasileiros e Japoneses.... E assim, com nossas armas de balão, guerreávamos. Ou, então, íamos até a casa de um amigo e éramos ladrões e policiais. Em uma batalha fictícia. O barbeiro me faz uma pergunta e volto para a cadeira vendo-me no espelho com um sorriso bobo. Agora, porém, os cabelos já são poucos e encaracolados. O loiro já não é tão amarelo. Meu rosto tem traços fortes e poucas “madeixas”caem ao chão. “O tempo passa e rápido demais”, falo para o barbeiro. Após ele terminar o corte, saio em direção a minha casa. Não de bicicleta, nem tampouco a pé, mas com um cavalo de metal. Passo pelas ruas de minha infância e criança nenhuma vejo. O campo jaz vazio, como a rua. “Onde estão os jogadores?”, pergunto-me. Eles devem estar jogando futebol virtual, bolinha de gude virtual... Vivendo uma vida virtual. Os vizinhos do campo que agradecem por não terem mais suas casas invadidas por nossas bolas, nem seus telhados quebrados. A guerra agora é com os ladrões, tentando não deixar brechas na segurança. É o tempo passa e cada geração tem seu jeito de encarar a infância. Que saudade!É apenas o que posso dizer. Saudade do tempo em que ficávamos mais no real e menos no virtual. Chego em casa. E percebo que apenas dois, daqueles meus 10, 11 amigos, ainda vivem na vizinhança e mesmo assim pouco nos falamos. Porém na memória de cada um sei que está cada aventura, cada país que conquistado, cada campeonato ganho... Porque o tempo pode passar, mas as coisas boas ficam.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A prisão

As asas, mecanicamente projetadas, batem em um ritmo acelerado. O movimento leve e rápido faz com que flutue sobre o fundo azul. Nada o aflige. Em cada novo movimento apenas a preocupação de continuar voando. De repente, em sua frente, um fio preto - que não sabe o que é, “mas é bom pra descansar” - aparece. Pousa, então, para se deleitar com a imagem de um ser com seus óculos a observá-lo. Mexe a cabeça rapidamente, de um lado para o outro. Receoso pela imagem que o assola. Ao seu lado outros começam a se alojar. E esta feita a corrente de canários. De repente um impulso toma conta de seu corpo. É hora de voar novamente. E naquela bater de asas, simples, volta a flutuar pelo azul. Agora em busca de uma refeição. O calor é insuportável. E, antes de comer, vai até um lago em meio ao cinza. As asas batem, agora, não com intuito de voar, mas de refrescar o corpo. A alegria é tanta... Que começa a cantar. Porém, antes de terminar sua ópera, sente uma ameaça e voa rapidamente. Fugindo daquela imagem com cinco dedos que, agora, empurra água por todo o lado. Livremente continua com o bater de asas, simples e encantador. Movimento que, na sua simplicidade, reveste-se da mais complicada explicação, como o amor. Tendo apenas que caçar sua comida, não em uma selva de pedra com complicadas moedas, mas em campos belos e floridos, continua a sua viagem. “Uma presa!”, percebem seus olhos. Ao se aproximar, porém, ouve um barulho e a escuridão toma conta. Bate as asas, mas não consegue voar. Um feixe de luz aparece e com ela cindo dedos o agarram. Berra sem parar... Ninguém escuta. Os dedos o soltam e tenta voar, novamente sem sucesso. Ao seu lado, um “negócio” com água e outro com um grão estranho. A fome aperta, tenta comer. Porém o gosto é ruim. Tenta beber, mas não se acostuma com o “negócio”. Olha, em meio aos ferros, com nostalgia o imenso azul pelo qual movia suas asas. Agora não consegue nem, ao menos, levantar vôo. Apenas fica parado dentro de sua cela. E a solidão, como sua irmã fazia, o abraça. O canto, agora, é de tristeza. Notas pesadas e melancólicas fazem parte de seu repertório. Todos os dias, no mesmo horário, os dedos voltam. Mudando o conteúdo das vasilhas. Sem direito de voar, sem direito de banhar-se, sem direito de descansar no fio preto... Sem nada. Pergunta a si: “Que mal eu fiz?”. Sem resposta, vive sua rotina sempre a observar o imenso azul que, antes, podia explorar sem regras e horários. Seu olhar e cantorias tristes, depois de um tempo notara, se assemelham às daqueles dedos. “Será que eles, também, estão presos?”.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A oposição que destrói

Existia um reino, próximo ao mar, onde o rei Patrick Tiago acabava de subir ao trono, após um período de turbulência, ocorrido devido à morte do seu pai. Por não poder vestir a coroa, devido a sua idade, o poder foi assumido interinamente por Marcos. Um período negro na história do reino. Os roubos eram freqüentes já que, através de Marcos, toda a sua perversa família dominava. Na coroação de Patrick o povo lotou o castelo. Todos eram favoráveis ao seu comando. Porém os irmãos Peter, Marcos, Diego e Bruno, que antes estavam no poder, confabulavam para retomar o castelo. O primeiro passo foi recorrer aos juízes do reino alegando que Patrick não poderia assumir o trono. Depois começaram a difamar a imagem do rei. Todos os passos que o soberano tentava dar, em prol da população, eram freados pelos irmãos que buscavam favorecer sua família. “Rei posto é rei deposto”, diziam os irmãos. Pouco importava, para eles, a vontade de todos os moradores do condado, que não se intimidavam em manifestar seu amor pelo novo rei.  Eles queriam o poder a todo custo, para, assim, poderem fazer suas “falcatruas”. A situação estava ficando insuportável. O reino não conseguia se desenvolver devido à “oposição” suja dos irmãos que queriam retirar Patrick a todo custo do trono. Até que um juiz, em um ato de cólera, deu ganho de causa a Peter, Marcos, Diego e Bruno. Logo que souberam da decisão, os quatro correram para o castelo e queriam depor Patrick, sedentos pelo poder. Porém o rei já os esperava com seu exército e não entregou o trono. Assim começara a guerra, que por anos perdurou no condado. Esquecido, o povo passava fome e já não tinha mais a quem recorrer. A guerra continuava no castelo e na corte judiciária. Os mortos eram colocados em pilhas, mas nenhum dos soberanos queria saber. “Filho para com isso, vá lá e busque trazer esses irmãos para o nosso lado. Precisamos de união para construir um reino justo”, dizia a mãe de Patrick. “Mãe, eles querem a todo o custo o meu trono, como farei?”, respondia. E assim a situação ficava insolúvel. Até que, após anos de guerra, a corte judiciária decidiu a favor de Patrick. O que não demoveu os irmãos da ideia de tomar o poder. “Parem com essa loucura, vocês não percebem que estão enfraquecendo o nosso reino? Juntem-se ao rei e vamos fazer um reinado de união e crescimento. Nossos inimigos podem aproveitar para nos dominar”, disse um dos soldados aos irmãos. Como resposta eles cortaram a garganta do pobre coitado e disseram: “Quem não está conosco está contra nós e morrerá”. Porém a profecia daquele soldado era verdadeira. Logo o reino de Afar, inimigo eterno do condado, começou o ataque. Em menos de dois meses o rei Patrick já estava derrotado em uma masmorra ao lado dos irmãos. “Dividir para conquistar”, disse o rei de Afar, João. Enquanto na cela, a espera da morte, em um abraço eles selaram a paz. “Como fomos tão estúpidos? Ao invés de nos unirmos e lutarmos pelo nosso povo. Entramos em uma guerra pelo poder, como se nós mandássemos nesse condado. Agora o perdemos para sempre. Esquecemos que o povo e as suas vontades deveriam o ser nosso governante. É, a união faz a força e que isso sirva de lição para todos nós”, disse Patrick. Essas foram suas ultimas palavras. Todos foram mortos.