sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A arte pela arte

O sol tomava seu posto no céu, as nuvens, tolas, desafiavam os olhares humanos em formas incompreensíveis. No meio da rua silenciosa, apenas um cantarolar de pássaros acabava com tal estado. Neste cenário, ouvi o toque de um piano, frenético e lírico a tocar a famosa marcha de nosso eterno Mozart. Cada nota soava como um suspiro de resistência. Ao meu lado, parados, dois homens vestidos de preto, cabelos pintados em azul, piercings em todos os lados, debochavam de tal magia. “Tolos” pensei cá, com meus botões.  Não por estarem vestidos de tal maneira, mas por debocharem de um estilo musical, será que não percebem que isto divide a sociedade?

Senhores, não podemos mais permitir isso. Não é porque escuto rock, que devo odiar o samba. Nem, tampouco, odiar todos os ritmos existentes. Na boa, isso só serve para dividir a sociedade e saber para que nichos devem-se vender tais produtos. Cada um tem seu gosto, só estou alertando para o fato de que não podemos odiar algo, apenas porque nos disseram que devemos odiar. É como um clássico entre inter e grêmio, quem disse que eles são rivais? Quem criou esta premissa? Não é so a musica que leva, às vezes, alguns a atos idiotizados. O esporte também, brigas e lutas com que sentido? Nenhum. Porém não é sobre isso que venho lhes falar.

O pianista continuava a tocar sua marcha e a encantar minhas células, mas meu cérebro estava inquieto. Os dois homens já haviam saído. Procurei um lugar para sentar e me descansar enquanto ouvia o ultimo grito da música clássica. Cada vez mais, menos pessoas gostavam de tal arte e, nunca mais, se repetirão concertos de 4, 5 horas, pois agora tudo tem que ser rápido. A arte perdeu coma arte, com a tecnologia, e ganhou como produto. Poucos fazem arte pela arte. E a indústria cultural transformou tudo em produto. Hoje compramos um quadro, por exemplo, para enfeitar a sala porque ele é bonito, não por ter algum significado. Aliás, fora de um contexto, nunca saberemos o que o artista quis expressar se quis expressar algo.

As canções parecem todas iguais, e não reconheço, em meu tempo, nenhum novo Mozart, Villa-Lobos, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Bach, entre outros, que revolucionaram o seu mundo através da arte. Como o pianista que toca aos meus ouvidos, a arte parece distante das pessoas. Músicas que possuem a mesma letra, músicos que possuem os mesmos repertórios. Peças de teatro, que apenas querem público e perdem sua função social. Tiro por minha cidade. Se algum dia um drama for apresentado, em seu único teatro, e não tiver nenhum ator global no elenco, não terá sequer uma alma a assisti-la. Agora se, por acaso, uma comédia sem escrúpulos aparecer ao menos umas 50 pessoas estarão na platéia.  A arte perdeu como arte e ganhou como produto.

Nos tempos antigos, onde não tínhamos tantos instrumentos de alienação, as peças duravam horas a fio. Agora se passarem de uma hora, o público já perde o interesse. Não os culpo, pois a vida de todos está, cada vez mais, mais rápida. Porém será que nenhuma forma de arte prende a atenção de alguém mais do que alguns minutos?

Penso estas palavras, enquanto meu pianista dá seu ultimo toque no piano e o silêncio retoma a rua. O céu, lírico, me traz a tona, meus compromissos. Novamente, tenho que correr e correr e produzir e produzir. Como ouvi na fala de algum personagem: “Porque a pergunta é sempre o que eu vou fazer? O que você vai fazer Max? O que você vai fazer? Porque ninguém pergunta quem eu sou?” Isto é tema para uma outra crônica, mas pense sobre isso, e descubram-se.

Nenhum comentário:

Postar um comentário