quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Estado civil

O dia estava agitado. Chegara ao trabalho e muito trabalho tinha para fazer. No meio dessa “zorra”, uma consulta no oftalmologista me aguardava. Chegando no horário, peguei o carro e parti. Estacionei-o, entrei... tudo normal. Alguns pacientes esperavam sua vez. A secretária me chamou e pediu minha identidade e carteirinha do plano de saúde. Entreguei a ela. Sendo que na hora de preencher a ficha, num tom elevado, ela me perguntou:

- Estado civil? – Putz!.. Pra que fazer essa pergunta? Coloquei meus neurônios para funcionar. Dizer o que? “Ah coloca aí, encalhado!”, não, não iria professar meu fracasso ali. Respondi baixinho.

-solteiro. – nunca falei tão rápido e baixo.

- Desculpe, Não entendi...

-solteiro. – falei mais baixo e um pouco devagar.

- Senhor, repita, por favor.

- SOLTEIRO!! – soltei enfurecido, de tanta raiva.

Ela colocou na folha, me olhou como que dizendo: “Porra, não precisa fazer cena, to vendo porque ta solteiro”.Sentei e comecei a pensar. Algumas pessoas orgulhar-se-iam de dizer esta palavra. Falariam pausado, audível e com um “Sou”, para dar ênfase.  “Sou Solteiro”. Talvez por terem saído de um relacionamento a pouco. Não importa. Enquadro-me nos que não se orgulham, mas não se mutilam por isso. A expressão para meu sentimento é “Tanto faz”.  Enquanto não encontrei a pessoa certa, vou assim aos trancos e barrancos. Batendo a porta na cara.  Não sei porque tanta necessidade em mostrar algo a alguém. Sei lá... Prefiro morrer solteiro a viver um namoro de mentira, no qual eu não esteja interessado, só para que os outros não me “tachem” de “encalhado”. 

De uma coisa tenho certeza, quando eu encontrá-la, farei de tudo para que seja feliz ao meu lado. A mulher, ainda me olhando daquele jeito, agora me chama para a consulta. Vou lá, descobrir que minha miopia aumentou, mas não tanto quanto o preço da consulta que mais dói para mim.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A memória

Dizem que a memória é a fonte para sabermos o futuro. Podemos projetar trinta anos, utilizando apenas a memória e a observação. Uma crise, por exemplo, não surge em nossa vida ou em nosso mundo do nada. Ela dá sinais e sinais até alcançar seu apogeu. A noite que você foi grosso com a sua mulher, o dia em que brigasse com um desconhecido, tudo leva a algum lugar, a algum futuro. As escolhas, os caminhos, e como caminhamos definem o que seremos ou o que não seremos.

Só existe um senhor que pode nos contar se acertamos nossas previsões: o tempo. A memória e o tempo. O tempo pode acabar com uma memória, ou uma memória acabar com o tempo e ficarmos sem saber quando se passou. Lembro de diversas experiências e de como me senti. Porém se não lembrasse? Se não soubesse quem sou? Como viveria?

Como uma criança. Assim, sem saber de nada. Provando sabores conhecendo novos atores, novos odores e novas faces. Vivemos no mundo da lógica, mas se não existisse memória? Talvez desaprendêssemos coisas como Ironia, maldade, palavras que, ao longo da vida, se fazem presentes em nossa alma. Memória que falta a massa brasileira, digo massa porque ainda temos uma identidade fraca como brasileiros. Um senador coloca dinheiro na cueca e quatro anos depois nos perguntamos: Quem era mesmo aquele senador...? E ninguém sabe responder. A culpa, porém, é do excesso de informações.

Sabemos o passado de nosso país, então podemos projetar um futuro de escolas em ruínas e uma saúde falida, enquanto magnatas ganham milhões e aquecem, a “terceira” maior economia do mundo, o  que, como insistem em mentir os economistas, culminaria em uma divisão de renda melhor. Não se iludam, a fome é um mal necessário para a economia, a violência também. Como li em algum lugar: “ Em um mundo sem violência, para que policia? Para que segurança privada?” mais um nicho de consumo sumiria. Assim, como se não houvesse doenças ou vírus de computador.

Então, meus amigos, pensem no passado do nosso país e pensem no que viveram para projetarem seu futuro. Porém como tudo é incerto, não tenham certeza. Lembrem-se é só uma projeção turva e sem sentido, mas que pode nos ajudar a acabar com as surpresas desagradáveis. A memória é o palanque eleitoral do futuro. Lembrem-se amigos, não dos nomes, mas dos sobrenomes.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A arte pela arte

O sol tomava seu posto no céu, as nuvens, tolas, desafiavam os olhares humanos em formas incompreensíveis. No meio da rua silenciosa, apenas um cantarolar de pássaros acabava com tal estado. Neste cenário, ouvi o toque de um piano, frenético e lírico a tocar a famosa marcha de nosso eterno Mozart. Cada nota soava como um suspiro de resistência. Ao meu lado, parados, dois homens vestidos de preto, cabelos pintados em azul, piercings em todos os lados, debochavam de tal magia. “Tolos” pensei cá, com meus botões.  Não por estarem vestidos de tal maneira, mas por debocharem de um estilo musical, será que não percebem que isto divide a sociedade?

Senhores, não podemos mais permitir isso. Não é porque escuto rock, que devo odiar o samba. Nem, tampouco, odiar todos os ritmos existentes. Na boa, isso só serve para dividir a sociedade e saber para que nichos devem-se vender tais produtos. Cada um tem seu gosto, só estou alertando para o fato de que não podemos odiar algo, apenas porque nos disseram que devemos odiar. É como um clássico entre inter e grêmio, quem disse que eles são rivais? Quem criou esta premissa? Não é so a musica que leva, às vezes, alguns a atos idiotizados. O esporte também, brigas e lutas com que sentido? Nenhum. Porém não é sobre isso que venho lhes falar.

O pianista continuava a tocar sua marcha e a encantar minhas células, mas meu cérebro estava inquieto. Os dois homens já haviam saído. Procurei um lugar para sentar e me descansar enquanto ouvia o ultimo grito da música clássica. Cada vez mais, menos pessoas gostavam de tal arte e, nunca mais, se repetirão concertos de 4, 5 horas, pois agora tudo tem que ser rápido. A arte perdeu coma arte, com a tecnologia, e ganhou como produto. Poucos fazem arte pela arte. E a indústria cultural transformou tudo em produto. Hoje compramos um quadro, por exemplo, para enfeitar a sala porque ele é bonito, não por ter algum significado. Aliás, fora de um contexto, nunca saberemos o que o artista quis expressar se quis expressar algo.

As canções parecem todas iguais, e não reconheço, em meu tempo, nenhum novo Mozart, Villa-Lobos, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Bach, entre outros, que revolucionaram o seu mundo através da arte. Como o pianista que toca aos meus ouvidos, a arte parece distante das pessoas. Músicas que possuem a mesma letra, músicos que possuem os mesmos repertórios. Peças de teatro, que apenas querem público e perdem sua função social. Tiro por minha cidade. Se algum dia um drama for apresentado, em seu único teatro, e não tiver nenhum ator global no elenco, não terá sequer uma alma a assisti-la. Agora se, por acaso, uma comédia sem escrúpulos aparecer ao menos umas 50 pessoas estarão na platéia.  A arte perdeu como arte e ganhou como produto.

Nos tempos antigos, onde não tínhamos tantos instrumentos de alienação, as peças duravam horas a fio. Agora se passarem de uma hora, o público já perde o interesse. Não os culpo, pois a vida de todos está, cada vez mais, mais rápida. Porém será que nenhuma forma de arte prende a atenção de alguém mais do que alguns minutos?

Penso estas palavras, enquanto meu pianista dá seu ultimo toque no piano e o silêncio retoma a rua. O céu, lírico, me traz a tona, meus compromissos. Novamente, tenho que correr e correr e produzir e produzir. Como ouvi na fala de algum personagem: “Porque a pergunta é sempre o que eu vou fazer? O que você vai fazer Max? O que você vai fazer? Porque ninguém pergunta quem eu sou?” Isto é tema para uma outra crônica, mas pense sobre isso, e descubram-se.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Cansei!

Cansei! Não sei explicar o que aconteceu, apenas cansei...  Cansei de festas sem diversão e muita bebida. Cansei... Dessa rotina medíocre. Cansei das pessoas que fingem se importar comigo, e, na primeira oportunidade, me deixam só. Cansei... De ser sempre o último e nunca conseguir o que quero. Cansei de fingir estar sempre bem. Sou filho de Deus, também tenho o direito de me aborrecer... E, se não for compreendido, não me importarei, pois Cansei!... De guardar as mazelas que aprontam comigo e ainda fingir que nada aconteceu. Nunca gostei de certas atitudes. Odeio quem deixa seus amigos de lado “porque o namorado tem ciúme ou não gosta de tal pessoa”. Cansei dessa hipocrisia, dessa vida onde todos têm que serem perfeitos e viverem em uma tela de cinema.

Amigos... Cansei! Com todas as letras, cores, gostos e sabores. Nunca gostei de ser deixado de lado, e quero, como todos, chamar atenção. Grito todos os dias: “Hei! Olhem-me!”.  E cada um, dentro de si, fazendo o mesmo. A indiferença é o que mais mata, tenham certeza. Naquela noite senti que era indiferente minha presença e fingi mesmo que não conhecia ninguém. Desculpe, não sou um bom ator.

Cansei, com todas as letras, de ser julgado. Não apontem o dedo, não acusem. Apenas entendam. Meus amigos... Apenas cansei. Já estou me matando por dentro. E desabafo sim nessas linhas. Aliás, sou fraco mesmo. Não conseguiria falar isso na cara de qualquer pessoa, a não ser que eu estivesse bêbado.

E por último, prometo, cansei desse consumismo e dessa vida hedônica. A felicidade não está no prazer, nem, tampouco, em uma festa com vários carros som e muita bebida. Alias, a felicidade é um estado de espírito duradouro, alegria e euforia são apenas partes ínfimas de tal sentimento. Beber, não trás felicidade. Estar bem consigo mesmo é dar o primeiro passo para essa tão sonhada e distante palavra. Cansei... Dessas festas sem futuro. Quero apenas meus amigos ao meu lado e uma churrasqueira. Talvez algum grande amor apareça assim de repente... Pouco importa. Apenas sinto que cansei de certas coisas em minha vida. Vou mudar, para ver se algo muda.