O dia estava agitado. Chegara ao trabalho e muito trabalho tinha para fazer. No meio dessa “zorra”, uma consulta no oftalmologista me aguardava. Chegando no horário, peguei o carro e parti. Estacionei-o, entrei... tudo normal. Alguns pacientes esperavam sua vez. A secretária me chamou e pediu minha identidade e carteirinha do plano de saúde. Entreguei a ela. Sendo que na hora de preencher a ficha, num tom elevado, ela me perguntou:
- Estado civil? – Putz!.. Pra que fazer essa pergunta? Coloquei meus neurônios para funcionar. Dizer o que? “Ah coloca aí, encalhado!”, não, não iria professar meu fracasso ali. Respondi baixinho.
-solteiro. – nunca falei tão rápido e baixo.
- Desculpe, Não entendi...
-solteiro. – falei mais baixo e um pouco devagar.
- Senhor, repita, por favor.
- SOLTEIRO!! – soltei enfurecido, de tanta raiva.
Ela colocou na folha, me olhou como que dizendo: “Porra, não precisa fazer cena, to vendo porque ta solteiro”.Sentei e comecei a pensar. Algumas pessoas orgulhar-se-iam de dizer esta palavra. Falariam pausado, audível e com um “Sou”, para dar ênfase. “Sou Solteiro”. Talvez por terem saído de um relacionamento a pouco. Não importa. Enquadro-me nos que não se orgulham, mas não se mutilam por isso. A expressão para meu sentimento é “Tanto faz”. Enquanto não encontrei a pessoa certa, vou assim aos trancos e barrancos. Batendo a porta na cara. Não sei porque tanta necessidade em mostrar algo a alguém. Sei lá... Prefiro morrer solteiro a viver um namoro de mentira, no qual eu não esteja interessado, só para que os outros não me “tachem” de “encalhado”.
De uma coisa tenho certeza, quando eu encontrá-la, farei de tudo para que seja feliz ao meu lado. A mulher, ainda me olhando daquele jeito, agora me chama para a consulta. Vou lá, descobrir que minha miopia aumentou, mas não tanto quanto o preço da consulta que mais dói para mim.
