O telefone desperta, mas o corpo não quer levantar. Está na hora. É sair da cama e ligar o boiler – para esquentar a água do chuveiro- voltar para a cama e esperar uns 20 minutos. Depois é levantar, tomar um banho, um café, colocar a roupa e ir para a escola. Isso tudo por volta das 7h da manhã. Essa era minha rotinha em um dos apartamentos que morei em Dublin. E dentro dela, quase todos os dias, um dos moradores natural das Ilhas Maurício me acompanhava pela manhã. Bastava levantar para ligar o boiler que lá estava ele. Com um ornamento na mão, rezando e andando pela casa. Ele sentava no sofá, tomava um gole de água, rezava mais um pouco e recomeçava a caminhada pelos cômodos que dividíamos. Óbvio sem entrar em meu quarto, o qual eu dividia com um paulista corintiano. “Good Morning, Lucas”, ele dizia todas às vezes. E iniciávamos uma conversa curta, até ele levantar do sofá novamente e reiniciar as orações. Não me pergunte que religião ou culto pertencia meu roommate, porque nunca entramos no tópico desta conversação. Porém era engraçado e ao mesmo tempo estranho vê-lo quase todos os dias naquele ritual. Ficamos muito amigos e por vezes ele fazia pratos e dividia comigo e vice-versa. Lembro do dia em que fiz uma pipoca e ao colocar sal ele me questionou porque eu estava fazendo aquilo. “In my countrie we only eat sweet popcorn”, disse ele. Então o encorajei a experimentar a pipoca salgada. Ele me olhou pegou um punhado deu um mordia e imediatamente jogou no lixo. “I prefer sweet”, falou ele e rimos. Em outro episódio apresentei para ele e o outro morador do apartamento,também, natural das Ilhas Maurício, o “aipim”, conhecido em outros lugares como mandioca. Nunca tinham ouvido falar e nem sabiam que existia tal iguaria no mundo. Se eles gostaram? Acredito que não muito, apesar de terem dito que era bom demais. Onde achei mandioca em Dublin? Nos mercados brasileiros, porque não é um produto vendido lá. Na realidade era nos mercados brasileiros que matávamos um pouco da saudade de um guaraná, uma carne boa, entre outros. Nunca me importei muito com as rezas e o estilo de vida diferente. Mas é nessas horas que percebemos o quão é importante respeitar as diferenças. E que, sim, existem muitas diferenças. Apesar de toda a globalização,coca-cola e Mcdonald’s.
quarta-feira, 29 de agosto de 2018
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