quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Crônicas de um intercambista: Um Castelo Assombrado

Um castelo pequeno, mas aconchegante e com muitas histórias. Isso em uma cidade com uma bela praia e fria, muito fria, como toda a Irlanda. Esse era o Castelo de Malahide, que ficava próximo a Dublin. Estava com meus companheiros de turma em uma viagem promovida pela escola. Apesar de pequeno, a área ao redor do Castelo era gigante. Entramos para conhecer as histórias daquela construção medieval com móveis do século XII. Uma guia ia falando das tradições da época e mostrando como era. Um exemplo era o fato de as mulheres terem de se maquiar no frio já que se o fizessem perto da lareira a maquiagem iria derreter. Ou então que por muito tempo existiu a profissão de “olheiro”, que nada mais era que uma pessoa incumbida de observar os casais de apaixonados e impedi-los de se tocar e conversar sobre política ou assuntos relacionados. Além da história familiar dos Talbots, que era a família proprietária do imóvel. Pelo menos até Rose Talbot vende-lo para o governo, na época da fome na Irlanda, e ir morar na Austrália. Mas não é isso que quero contar nessas linhas. Mas, sim, as histórias de fantasmas. Enquanto andávamos pelo Castelo íamos entrando nos diversos cômodos e cada um parecia relembrar de uma época distinta. Até chegarmos a um bem escuro com estantes negras. Foi então que a guia contou que a família Talbot havia apoiado o rei Jaime II que disputava o trono do Reino Unido, inclusive com a perda de grande parte da família. O rei católico no entanto saiu derrotado e o catolicismo fora proibido. O que não impediu os Talbots de realizarem seus cultos e esconder o “santíssimo” em uma câmara secreta. “Conta-se que um dia estavam todos aqui em comunhão e sabendo disso a guarda inglesa apareceu no castelo. Diante da situação as pessoas se esconderam no compartimento, porém, a chave foi perdida e elas nunca mais saíram de lá. Porque a chave ainda não foi achada. Dizem que o espírito dessas pessoas ainda vaga pelo castelo”, dizia. Outra história ocorreu na sala de jantar, que tinha uma daquelas mesas enormes igual nos filmes, com quadros por todo o lugar, e um coreto. Conta-se que um jovem “bobo” da corte fez um espetáculo durante um jantar no coreto. E ao adentrar a mais bela mulher, ele fez uma grande declaração de amor, mas ela o rejeitou. Por este motivo ele ao não agüentar a dor se jogou do coreto, mas, óbvio, o espírito dele continua a vagar a procura do grande amor. “Outra versão fala que ele era um homem leal aos Talbots que fora morto pelas tropas inglesas que queriam invadir o castelo e alma dele continua a vagar”, afirmou a guia. Ela nos desafiou, ainda, a observar um quadro em um corredor em que a menina Rose Talbot nos acompanha com os olhos. E ao passarmos pela pintura, não resisti e fiquei observando aquela imagem com uma mulher e duas meninas. E a Rose, não tirava o olho de mim. O medo tomou conta. E todas as histórias se unificaram em um calafrio. Conhecemos os quartos do Castelo e depois o jardim que era muito belo.

Crônicas de um intercambista: Diferenças Culturais

O telefone desperta, mas o corpo não quer levantar. Está na hora. É sair da cama e ligar o boiler – para esquentar a água do chuveiro- voltar para a cama e esperar uns 20 minutos.  Depois é levantar, tomar um banho, um café, colocar a roupa e ir para a escola. Isso tudo por volta das 7h da manhã. Essa era minha rotinha em um dos apartamentos que morei em Dublin. E dentro dela, quase todos os dias, um dos moradores natural das Ilhas Maurício me acompanhava pela manhã. Bastava levantar para ligar o boiler que lá estava ele. Com um ornamento na mão, rezando e andando pela casa.  Ele sentava no sofá, tomava um gole de água, rezava mais um pouco e recomeçava a caminhada pelos cômodos que dividíamos. Óbvio sem entrar em meu quarto, o qual eu dividia com um paulista corintiano. “Good Morning, Lucas”, ele dizia todas às vezes. E iniciávamos uma conversa curta, até ele levantar do sofá novamente e reiniciar as orações. Não me pergunte que religião ou culto pertencia meu roommate, porque nunca entramos no tópico desta conversação. Porém era engraçado e ao mesmo tempo estranho vê-lo quase todos os dias naquele ritual. Ficamos muito amigos e por vezes ele fazia pratos e dividia comigo e vice-versa. Lembro do dia em que fiz uma pipoca e ao colocar sal ele me questionou porque eu estava fazendo aquilo. “In my countrie we only eat sweet popcorn”, disse ele. Então o encorajei a experimentar a pipoca salgada. Ele me olhou pegou um punhado deu um mordia e imediatamente jogou no lixo. “I prefer sweet”, falou ele e rimos. Em outro episódio apresentei para ele e o outro morador do apartamento,também, natural das Ilhas Maurício, o “aipim”, conhecido em outros lugares como mandioca. Nunca tinham ouvido falar e nem sabiam que existia tal iguaria no mundo. Se eles gostaram? Acredito que não muito, apesar de terem dito que era bom demais. Onde achei mandioca em Dublin? Nos mercados brasileiros, porque não é um produto vendido lá.  Na realidade era nos mercados brasileiros que matávamos um pouco da saudade de um guaraná, uma carne boa, entre outros. Nunca me importei muito com as rezas e o estilo de vida diferente. Mas é nessas horas que percebemos o quão é importante respeitar as diferenças. E que, sim, existem muitas diferenças. Apesar de toda a globalização,coca-cola e Mcdonald’s.