Nasce mais uma criança no baile da vida. Ela corre, brinca e se diverte. Com todo o seu amor briga e perdoa em segundos. Rancor? Palavra desconhecida no mundo das algazarras. De repente os cabelos crescem, a barba aparece e junto os afazeres e responsabilidades. Assim as pernas se espicham, o coração descobre o que é sofrer e os amores desabrocham como flores negras. Algumas feridas começam a cicatrizar enquanto outras aparecem. É quando a criança, que antes bailava sem se preocupar, começa a ser barrada na porta do baile. “Trouxe sua máscara?”, perguntam os seguranças. Logo, para participar, ela escolhe o seu disfarce e começa a dançar. Como todos os outros, escondido por de trás de um pano, observa tudo o que acontece ao se redor. “Nossa, não acredito que Maria está saindo com o João. Ele deixou da mulher para ficar com aquela adúltera!”, afirma uma senhora para seu esposo. “Com certeza! Que pessoas sem escrúpulos”, responde o homem utilizando-se sempre da sua máscara. E, assim, o baile continua sem parar. Alguns se vestem de negro, outros de branco, azul, amarelo e um arco-íris de cores se forma. Todos os dias, todos trocam de cor. E nossa criança, antes ingênua, agora com sua máscara de homem da lei julga a todos com sua língua. “Culpado! Culpado! Culpado!”, esbraveja. Sempre bailando, ele continua a dançar em ritmos diferenciados. Hora seus pés balançam, ante a um bom samba. Hora param e deslizam devagar perdidos entre baladas românticas. Muitos corpos femininos possui em sua estante, mas sempre preservando a sua identidade, como elas, também, o fazem. O baile não é de máscaras? Então por que tirá-las? Ao seu lado, pessoas, também, apreciam o toque musical da orquestra do tempo. E como um bom vinho envelhecem e aprendem ou então, mal cuidados, tornam-se vinagres azedos nas saladas familiares. “Não seja assim. Não! Não! Você está errada! Sempre estará!”, grita uma moça para sua irmã que, reprimida, busca apenas aceitação. Porém grita a moça querendo ser totalmente despida como sua irmã. Sem precisar usar de máscaras para bailar. Enquanto, nossa criança, continua perdida entre o que faz e o que é. Utilizando-se de diversos disfarces continua gingando no seu ritmo furtivamente, mas seu coração quer gritar e jogar todas aquelas pesadas roupas para o alto. Observa ao balé e tem vontade de vomitar. E o pior, se enxerga no meio de convenções e ideais professadas por outras pessoas de máscaras que, sempre, se contradizem. Mulheres esbravejando, ante aos adultérios escondendo um amante em sua carapuça. Homens xingando os poderosos, deixando atrás de suas máscaras a vontade de ter poder. Todos julgando os atos uns dos outros, como se fossem a justiça divina. Porém, perdidos por de trás de suas máscaras... Já não se entendem e deixam a tristeza dominar a face rubra. De repente, uma mulher se aproxima da nossa criança. Porém não é como as outras e depois de tanto dançarem se revelam. Sem máscaras descobrem-se frágeis e apaixonados. Fora das regras de convivência... Sentem-se completos. Porém algumas convenções os separam. Crenças, ideias... Máscaras... e agora? “Vamos embora deste baile!”, suplica nossa doce criança. “Não posso fugir”, responde a donzela. Esperam... Enquanto o baile continua. A orquestra do tempo, implacável, não para. E os dias são como trágicas óperas. E a tristeza e a angústia dominam os dois corações. Ambos sabem que antes de dormir, já sem máscaras, pensam um no outro e lembram-se dos abraços e das frases de amor. Dos dias se revelando e das noites em claro esperando apenas por um encontro rápido ou uma troca de olhar. E o baile perde seu sentido. E tudo, passa apenas de conveniência. Por que não rasgar as antefaces e simplesmente serem felizes? Não... O jogo deve continuar. A gentil donzela... O sério homem. Tratando-se como objetos em uma estante, pensando que sempre estarão no mesmo lugar. Porém a orquestra continua a tocar e o baile sempre faz com que as pessoas troquem de lugar. E assim... Tudo passa. Até que o baile coloca novamente, na mesma dança nossa criança e sua donzela. E assim, bailando rasgam seus disfarces e decidem enfrentar seus próprios medos e dançam... Até o baile acabar.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
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